Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) registrou, pela primeira vez, os termos e as expressões usados no Baile de São Gonçalo, em São Luís. A manifestação religiosa e cultural, trazida de Portugal no período colonial, permanece viva em comunidades da capital formadas por migrantes da Baixada Maranhense.
O estudo foi realizado pela mestra em Letras Tatiana do Nascimento Cunha e tem por foco a preservação dessa tradição que reúne dança, música e recitação de versos, geralmente, como pagamento de promessas ao santo São Gonçalo.
De acordo com Tatiana, “os termos utilizados no Baile de São Gonçalo são próprios dos participantes, e, com o glossário, o público em geral poderá compreender, de uma forma mais clara e mais pontual, sobre esses termos”.
A pesquisa de campo ocorreu em cinco bairros com forte presença de famílias oriundas da Baixada: Bairro de Fátima, Primavera Bom Jesus, Residencial Paraíso, Vila Bacanga e Vila Embratel.
Foram entrevistadas doze pessoas que exercem funções no Baile, como promissários, guias e dançantes. As conversas geraram mais de dez horas de gravações, posteriormente transcritas e analisadas com auxílio de ferramentas de inteligência artificial e softwares de processamento linguístico.
O resultado foi um glossário com 56 termos especializados, organizados em seis campos semânticos. O mais produtivo deles foi o campo da dança, com 38 palavras relacionadas aos passos e movimentos.
Consta entre os termos, “glancher”, passo no qual o casal gira com uma mão na cintura, e a outra, levantada; “capacete”, enfeite usado pelos dançantes; e “contraguia”, dançarino que conduz o grupo por dominar os rituais do baile.
A pesquisadora também identificou variações denominativas, ou seja, expressões diferentes usadas para o mesmo gesto ou objeto, dependendo da comunidade entrevistada. “Para as comunidades onde a pesquisa foi feita, esses relatos representam o fortalecimento de suas raízes ligadas à cultura popular. Para o meio acadêmico, a pesquisa em terminologia cultural leva ao glossário, que é fundamental para salvaguardar termos próprios de um grupo social específico, que, nesse caso, são os participantes do Baile de São Gonçalo”, diz, Tatiana.
O trabalho contribui para a documentação de uma manifestação popular que se mantém viva, principalmente, pela oralidade e práticas comunitárias. A expectativa é que o glossário estimule novos estudos e ações de valorização do Baile de São Gonçalo em São Luís.
A pesquisa foi orientada pela professora do Curso de Letras – Português-Espanhol da UFMA, Georgiana Márcia Oliveira Santos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).

