14/11/2025

I-Juca Pirama’ na COP 30

‘I-Juca Pirama’ na COP 30

Quem circular pela capital paraense nesta semana poderá aplaudir a ópera brasileira inédita “I-Juca Pirama”, com 75 minutos de duração e figurino confeccionado com elementos da Floresta.

O espetáculo, inspirado no poema do poeta maranhense Gonçalves Dias e criado por Gilberto Gil, Paulo Coelho e o maestro Aldo Brizzi, estreia nesta segunda-feira (10), como parte do XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, em Belém, com récitas ainda nos dias 11 e 12, durante a COP 30

Vale destacar que o espetáculo foi concebido a partir do poema escrito por Gonçalves Dias e tem libreto do escritor Paulo Coelho, composição musical de Gilberto Gil e direção musical e cênica do maestro Aldo Brizzi.

E provoca a reflexão sobre a necessidade da coexistência com os povos ancestrais (indígenas, quilombolas e nativos em geral, com seus saberes milenares), sob pena de se continuar destruindo o lugar de onde se tira o alimento, a água e o ar: o meio ambiente.

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A ópera reúne cantores líricos e artistas do Núcleo de Ópera da Bahia (NOP), o Coro Carlos Gomes de Belém, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e o grupo indígena Huni kuin (Acre).

No palco, música, canto, dança, projeções audiovisuais e rituais de matriz indígena – a tradição lírica encontra a sabedoria ancestral dos povos da Floresta.

“A obra vai revolucionar a ópera brasileira, com um magnífico trabalho de Aldo Brizzi e Gilberto Gil”, afirma Paulo Coelho – escritor, jornalista e compositor brasileiro, parceiro de décadas do saudoso Raul Seixas, além de membro da Academia Brasileira de Letras.

“A ópera, não pretende ensinar, mas despertar. Ao colocar no palco grandes iniciados das culturas indígenas ancestrais e artistas líricos juntos, em pé de igualdade, ela cria um espaço simbólico de escuta. A arte não substitui a ação, mas pode abrir o coração – e sem isso, nenhuma ação é verdadeira”, afirma o maestro Aldo Brizzi.

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O maestro Brizzi atua na música há mais de 30 anos, e ele busca sempre o encontro entre a tradição erudita e as linguagens clássicas, “entre a partitura e a vida”. O maestro diz que “I Juca Pirama” surgiu a partir de uma ideia de Paulo Coelho. “Ele me propôs recriar o célebre poema de Gonçalves Dias a partir de um olhar atual, que falasse ao Brasil de hoje. Quando Gilberto Gil se juntou ao projeto, a dimensão espiritual e poética se ampliou: a música passou a refletir a força da palavra, a terra e a ancestralidade que o texto evoca”.

A ópera é em um ato, com prólogo,  e  parte do poema clássico e chega ao presente devastado pelas queimadas, onde os espíritos da terra e os descendentes de I-Juca se reencontram. A sonoridade do espetáculo mistura o universo sinfônico, a voz lírica e a percussão de matriz indígena.

Brizzi explica: “Os ritmos dos povos originários aparecem em diálogo com o coro lírico – um símbolo da coexistência e não da fusão”.

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‘I-Juca Pirama’ reforça o diálogo entre a arte, a cultura e o meio ambiente. Os figurinos eco sustentáveis são assinados pelo xamã tucano e artista plástico Tukano Bu’úKennedy e a figurinista Irma Ferreira, com material sustentável: casca de árvore e cortiças de árvores amazônicas.

Seis indígenas do povo Huni kuin, do Acre, entram em cena na ópera que reflete as múltiplas matrizes culturais brasileiras. “Nossa ópera se passa em duas épocas – a antiga, narrada por Gonçalves Dias, e a moderna, contada por nós. O I-Juca contemporâneo revive a busca por identidade em meio à destruição.

Essa convivência entre o antigo e o novo dá à obra uma dimensão simbólica de continuidade e transformação”, pontua o maestro Brizzi.

A produção começa com um prólogo em vídeo-projeção gravado na Amazônia, com Gilberto Gil no papel de Croá, o trovador dos povos originários, cantando uma música inédita sobre as queimadas, e o próprio Paulo Coelho interpretando Gonçalves Dias, que se transforma em Espírito da Terra.

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O jovem guerreiro I-Juca Pirama, último de sua tribo cujas terras foram devastadas por colonos portugueses, sai em busca de novos territórios e de um sentido de vida. Mas, ele é capturado pelos Timbiras e condenado ao sacrifício. No entanto, sua coragem e dignidade transformam seus algozes. I-Juca Pirama enfrenta o conflito entre honra e sobrevivência.

“Essa ópera é a nossa história. Quando entro no palco, eu sinto uma energia incrível, como se os próprios espíritos da natureza estivessem aqui comigo”. A fala é da indígena Bimi Huni kuin, que atua em ‘I-Juca Pirama’.

Ela diz que a ópera pode contribuir para dar visibilidade à cultura e histórias indígenas e sensibilizar o público para as lutas e desafios das aldeias.

Ensaio da ópera 'I-Juca Pirama' no Theatro da Paz, em Belém
Ensaio da ópera ‘I-Juca Pirama’ no Theatro da Paz, em Belém

“Não verás país nenhum como este”

Para a jornalista política Rosane de Oliveira, “foi impossível não lembrar de Olavo Bilac ao desembarcar no Parque da Cidade, em Belém, neste momento transformado na sede da COP30”.

Principal nome do parnasianismo, Bilac escreveu poemas que flutuam entre a ingenuidade e o ufanismo, mas não há como discordar de seus versos de exaltação ao Brasil quando o mundo se reúne no coração da Amazônia para tratar de clima.

Os pavilhões da COP, que ocupam uma área equivalente a 70 campos de futebol, onde antes era o aeroporto da capital paraense, são decorados com painéis que mostram a riqueza dos nossos seis biomas: a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pantanal e o Pampa.

Bilac tinha razão: “Criança! Não verás nenhum país como este. Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta! A natureza, aqui, perpetuamente em festa, é um seio de mãe a transbordar carinhos. Vê que há vida nos ninhos, que se balançam no ar, entre ramos inquietos! Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! Vê que grande extensão de matas, onde impera, fecunda e luminosa, a eterna primavera”.

A floresta vista do alto

A floresta mesmo só conseguimos ver quando o avião está a poucos minutos de Belém. A exuberância dos rios e das matas se revela na aproximação do pouso, e você se pergunta como nasceu uma metrópole nessa geografia peculiar.

A Belém que recebeu chefes de Estado e de governo na semana passada será, a partir de hoje, dos cientistas, dos professores, dos estudantes, das ONGs, dos movimentos sociais, dos governos locais, dos empresários, dos jornalistas do mundo inteiro, interessados em acompanhar os debates sobre o futuro do planeta – e o que ainda pode ser feito para salvá-lo.

O fim de semana foi apenas de reconhecimento de terreno. Não há debates no fim de semana, os estandes dos países ainda estão sendo montados, mas já se tem a sensação de estar numa babel tropical, tantos são os idiomas e sotaques dentro e fora do território da ONU.

A COP 30 não vai resolver os problemas do Brasil, nem é esse o seu propósito. Como nas edições anteriores, o que se faz é debater a crise climática e o que é preciso fazer para evitar que a vida se torne insustentável.

DE RELANCE

Reynaldo Fonseca é eleito ouvidor do STJ

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) elegeu, na última quarta-feira (5), o ministro maranhense Reynaldo Soares da Fonseca como novo ouvidor do tribunal. Ele sucederá o ministro Gurgel de Faria, que deixará o cargo no próximo dia 23.

Na mesma sessão, o colegiado escolheu o ministro Ribeiro Dantas para ser o ouvidor substituto. O mandato do ministro ouvidor tem duração de um ano, com possibilidade de recondução.

A Ouvidoria do STJ é a unidade responsável pelo diálogo entre o tribunal e os cidadãos, com a atribuição de receber e dar encaminhamento a reclamações, denúncias, críticas, sugestões e elogios.

A unidade também é responsável pelo Serviço de Informações ao Cidadão (SIC): recebe, registra e responde aos pedidos apresentados com fundamento na Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011).

Homenagem a Durval Fonseca

A propósito: nesta segunda-feira (10) será inaugurada em cerimônia marcada para às 9h, a inauguração do novo anexo do Tribunal de Justiça do Maranhão, que receberá o nome de “Edifício Durval Soares da Fonseca”, em justa homenagem à memória daquele que dedicou sua vida ao serviço público.

O prédio fica no mesmo local da Av. Pedro II, onde funcionou durante muitos anos uma agência do Banco do Brasil, em frente ao Palácio dos Leões.

Filho do homenageado, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca, do Superior Tribunal de Justiça, é presença confirmada na solenidade.

O sacrifício das mães

Foi a economista Claudia Goldin, terceira mulher a vencer o Prêmio Nobel de Economia na história, quem demonstrou, em séries históricas analisadas em Harvard, que a desigualdade salarial entre homens e mulheres, enraizada em nossa sociedade, se acentua após o nascimento do primeiro filho.

É o que ela chama de motherhood penalty, uma espécie de penalidade que recai sobre elas quando se tornam mães.

Enquanto homens mantêm ou ampliam seus ganhos após se tornarem pais, mulheres deixam seus empregos (quando não demitidas) e optam por trabalhos com menor remuneração a fim de conseguir conciliar trabalho e cuidado com os filhos.

Wagner Moura ganha mais um prêmio

O ator Wagner Moura recebeu mais uma vez prestígio numa premiação internacional por seu trabalho no filme O Agente Secreto.

Desta vez, uma menção honrosa do Newport Beach Film Fest, realizado na Califórnia, nos Estados Unidos, por sua “performance extraordinária”. No Brasil, o longa fez sua estreia nos cinemas na última quinta-feira, 6. E está em cartaz nos cinemas de São Luís.

Trata-se da quarta estatueta conquistada pelo ator pelo papel até o momento. Além do Festival de Cannes (que também premiou Kleber Mendonça Filho como diretor), foi vitorioso no Festival de Zurique e no Festival de Chicago.

No momento, Wagner Moura está entre os principais nomes cotados a concorrer ao Oscar de melhor ator em 2026.

Alerta em Belém

Entre os muitos alertas da organização dos espaços da COP 30 para os participantes do evento em Belém, um chamou a atenção: o aviso, enviado por e-mail, para que os visitantes não joguem papel ou absorventes higiênicos nos vasos sanitários do local.

É que em muitos países, especialmente na Europa, as tubulações são preparadas para receberem esse tipo de material.

Em Belém e na maioria das cidades brasileiras, como São Luís, por exemplo, o material é jogado em lixeiras disponibilizadas em banheiros e lavabos.

Para escrever na pedra:

“Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso”. De Fernando Pessoa, poeta português.

TRIVIAL VARIADO

Prefeitos muçulmanos: Zohran Mamdani é o futuro prefeito muçulmano de Nova York, como Sadiq Khan, o prefeito muçulmano de Londres. A dedução lógica é que prefeitos muçulmanos devem ser ótimos políticos e administradores de grandes metrópoles.

Igreja na COP 30: A Igreja Católica também terá espaços para debater sustentabilidade no período da COP 30. As atividades serão realizadas de 11 a 16 de novembro.

Custo: Municípios gastaram R$ 732 bilhões com desastres entre 2013 e 2024. Eventos são associados a mudanças climáticas.

Saúde: A Anvisa proíbe suplementos e energéticos com adição de ozônio. Gás não tem avaliação de segurança para uso em alimentos.

Pé-de-Meia: Estudantes no programa poderão escolher como investir o incentivo de R$ 1 mil recebido pela conclusão do ensino médio no Caixa Tem.

Economia: Poupança teve retirada líquida de R$ 9,7 bilhões em outubro. Rendimentos creditados nas contas somam R$ 6,4 bilhões, diz BC.

Censo 2022: Aquilo, Chein e Vitohugo: Brasil tem mais de 4 mil nomes usados por apenas 20 pessoas. E Batman é o sobrenome de 32.

Loteria: Mega-Sena acumula e o próximo concurso (amanhã, dia 11) deve pagar R$ 67 milhões. Números sorteados foram 10 – 14 – 15 – 35 – 44 e 56.

Benefícios: Gastos com bônus de produtividade para servidores do INSS batem recorde e chegam a R$ 161 milhões.