Por Catarina Bogéa
O índice de reprovação no teste prático para obter a Carteira Nacional de Habilitação, em São Luís, vem chamando atenção. De acordo com um levantamento publicado no sistema de informações de segurança pública, do Detran-MA, a cada 10 candidatos, 6 são reprovados no exame.
Em 2012, Londrina foi notícia principal por concentrar o maior índice de reprovados no teste. Entre janeiro e maio do ano passado, 57% dos candidatos reprovaram. Este ano, nos mesmos meses estudados, a média de três das principais autoescolas da cidade coloca São Luís em primeiro lugar, com o índice de reprovação de 60%.
Entre as escolas Giro Certo, Unidas e Sagrada Família, 993 alunos não conseguiram obter a CNH e apenas 648 foram aprovados. Diante disso, as autoescolas se sentem ameaçadas. “Aluno reprovado não traz outro aluno. Quanto mais alunos passarem, melhor pra autoescola e menos transtorno para eles [os alunos]”, explica Evilásio Nascimento Castro, professor e dono da autoescola Unidas.
Tornou-se comum ver, pelas escolas, vários alunos tentando pela segunda, terceira e até décima vez. O aluno João de Deus, 53 anos, que tenta passar pela 13ª vez, conta sua frustração: “Desde 2011 tento tirar minha carteira de motorista. Já gastei mais de três mil reais. Sempre me reprovam por algo pequeno. Na última vez, eu já estava dentro do carro, preparado para começar o teste, quando o examinador entrou, olhou para a minha mão que possui deficiência e disse que eu não poderia realizar a prova, então saiu do carro para verificar e isso me desestabilizou. Quando ele voltou e viu que não tinha problema, eu fui ligar o carro e ele disse que eu estava reprovado porque tinha me esquecido de pôr meus óculos, que tirei quando ele saiu”.
Os instrutores de autoescolas e os próprios candidatos reclamam que os testes estão sendo muito rigorosos. “O maior problema é o critério de avaliação dos examinadores. Cada um tem um tipo de critério para examinar”, diz o instrutor da Unidas, Celso Henrique. O segundo maior fator de reprovação, segundo os professores, é a sinalização das vias por onde é feito o teste. “Não há sinalização, os locais são de difícil acesso por causa de buracos, quebra-molas, mão dupla, estacionamento proibido. Tudo isso dificulta a visibilidade; dificulta para o aluno dominar o veículo por certos trechos”, afirma o professor José de Ribamar Nascimento Castro.
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“A avaliação está sendo feita pelo papel. Se for só pela ficha, nem os próprios examinadores passam na prova prática. Eles dizem, por exemplo, que o aluno foi reprovado porque ficou distante demais do meio fio, mas cadê a sinalização para o aluno ter noção da distância? Não se pode cobrar exatamente como está no papel sendo que, na prática, existem muitos problemas nos trechos da prova”, completa José Ribamar.
Ao todo, o aluno só pode perder três pontos. Qualquer errinho pode ser fatal, até na hora de descer do carro. Além dos problemas mais recorrentes e citados, alguns professores reclamam da exigência exagerada dos examinadores. “É o único órgão que não existe tolerância. Um minuto que você atrasa já não pode mais realizar a prova”, desabafa o instrutor Elilson Cardoso.
Os professores afirmam que tentam conversar com os instrutores para que eles sejam menos rigorosos, mas são sempre mandados para a controladoria, e, seguindo para lá, nunca recebem uma resposta. “Aqui, o que o examinador fala vira regra. É ditadura total!”, diz Celso Henrique.
Outro lado – A assessoria de comunicação do DETRAN-MA diz que o alto índice de reprovação se deve ao despreparo dos alunos para realização do teste. Segundo ela, para que a situação esteja sempre sob controle, o DETRAN realiza, por meio da controladoria, uma fiscalização rigorosa nos centros de formação dos condutores (CFCs). Sobre a falta de sinalização, a posição é clara: “isso é de competência do município”, afirma Nazaré Nunes, chefe da habilitação.