Por Gil Maranhão – JP TURISMO
O sotaque é de orquestra – um dos cinco que mais embalam os cerca de 300 grupos de Bumba-meu-boi do Maranhão, ao lado dos sotaques de Matraca, Zabumba, Baixada/Pindaré e Costa-de-mão.
O nome vem de um manancial – Rio Una -, de águas cristalinas, que serpenteia a cidade de Morros e é o cartão natural daquele município da região do Munim e também fica no corredor turístico dos Lençóis Maranhenses.
De bailado em bailado, com letras poéticas, cordões ritmados e alegres de índias e vaqueiros, animados ao som do banjo tenor, trombone, trompete, sax, maracás e bombos cobertos com couro de cabra, o Boi do Una está completando 20 anos que vem encantando o público nos Festejos Juninos maranhenses. Uma trajetória iniciada em 2001 e que fez o casamento perfeito de cultura popular, música, poesia e questão ambiental.
“O Boi do Una é a minha vida, pois nesta brincadeira está a minha raiz, minha história, a cultura popular de Morros, o rio que representa a sua maior riqueza natural. É um pouco de tudo o que eu vivi desde pequeno”, desabafa, emocionado, o jovem Nazareno Valderck, 52 anos, fundador do boi, e que artisticamente se assina pelo nome de Eno Cabessa. “O nome do grupo é uma homenagem ao Rio Una, balneário mais destacado da região do Munin”, reforça.
*Cds e Toadas*
Produtor cultural, músico e compositor, Eno Cabessa é o “amo” – aquele que comanda o boi – de um grupo composto por cerca de 85 pessoas, entre músicos e brincantes.
O grupo já gravou nove CDs, “que sempre foram bem recebidos pelo público e pela crítica, pois o Boi do Una ainda é um dos poucos que mantém a tradição do sotaque de orquestra, com seu ritmo mais cadenciado, sua orquestra tradicional, sem fazer uso de partituras e ainda usando os bombos cobertos de couro”, enfatiza.
Nesses 20 anos, inúmeras toadas, verdadeiras poesias, caíram na boca do povo. Uma delas é a clássica “Verão em Morros” – popularmente conhecida como “Pititinga” (um peixinho típico da cidade). A canção é tida como um verdadeiro hino da cidade de Morro e tão requisitada nos arraiais do estado quanto à famosa “Bela Mocidade” do Boi de Axixá – que os maranhenses amam.
Outra toada de sucesso é “Namorada”, gravada pelo Boi Pirilampo.
Tem, ainda, “Nosso amor”, “Pananam”, “Casinha” e “Ilha de Desejo” – esta, uma declaração de amor à Ilha de São Luís.
*Bailado em Live*
Além do “amo” que puxa as toadas e comanda a orquestra, a linha de frente da brincadeira conta com o trabalho de uma mulher ativa, Dudu Marques, esposa de Eno Cabessa e diretora geral que coordena as ações para a viabilização da exibição do grupo nas Festas Juninas do Maranhão.
Reforçam esse trabalho, outros dois apaixonados da cultural popular maranhense: o historiador e escritor Rogério Rocha e a professora Seleste Rocha, além do jovem cantor e compositor Fabiano – que se lançou recentemente no meio artístico como Nano Valdeck – e comanda o cordão dos vaqueiros campeadores.
O Boi do Una vai festejar seus 20 anos com uma Live, marcada para este sábado (27), as 20h, e que deve se repetir em julho, que a maioria dos grupos de Bumba-meu-boi estão fazendo, devido a pandemia. “O Maranhão não terá aquele Festejo Junino grandioso, com muitos arraiais coloridos e animados e muitas brincadeiras, que transformaram a nossa festa em um dos maiores, maiores São João do Nordeste. Mas, ainda assim, os bois estarão animando a todos, com apresentações virtuais, mostrando as novas toadas”, disse Eno Cabessa.
Box 1
*VERÃO EM MORROS (Pititinga)*
(Autor: Eno Cabessa)
Quando verão chegar
Você estará junto a mim
Nas noites nas madrugadas
Às margens do rio Munim
Nas manhãs ensolaradas
Ao una vou te levar
Eu cantarei pra você
Toadas que fiz ao luar
Você vai gostar, morena
Dos nossos banhos na “croa”
Do camarão com juçara
Farinha d’água da boa
Cozido de Pititinga
Sururu de paletó
Vamos lá pra Morros, morena
Lá é bem melhor.
Box 2
*ILHA DE DESEJO*
(Autor: Eno Cabessa)
É lindo quando o dia vem raiando
O banzeiro quebrando o sol vem te bronzear
Tuas noites sempre são mais estreladas
Embalado por toadas o luar vem te beijar
Teu céu, casarões e azulejos
Ó ilha de desejo desejada pelo mar
Ò francesinha, africana, portuguesa
Ilha de tanta beleza terra de tupinambá
Eu sou teu poeta
Sou o teu namorado
São Luís teu nome em meu peito está gravado