19/05/2024

CARNAVAL DE LEMBRANÇAS E SAUDADES

POR DOUGLAS CUNHA

O Carnaval maranhense da presente temporada será diferente. Os folguedos tradicionais não estão com a mesma animação de tempos passados, enfraquecendo o carnaval de rua e ameaçando até mesmo os desfiles da passarela, que este ano não acontecerão, visto que o Poder Público descartou o auxilio oficial, visando evitar aglomerações, diante da ameaça de uma nova cepa do Corona vírus: ômicrom, que seria a mais violenta, no que concerne à contaminação. A prefeitura de São Luís, cancelou o carnaval oficial na capital.

Com isso, profetiza-se que o Carnaval maranhense deste ano não terá o mesmo brilho dos velhos carnavais de tantas tradições. Mas, as escolas de samba, mesmo sabendo que não haverá o grande desfile, não pararam suas atividades de barracão, realizando shows com sambistas locais e do Rio de Janeiro, rodas de samba, feijoadas dominicais e outras promoções, inclusive concursos para a escolha de sambas de enredo.

Os bares do Centro Histórico e da periferia já vinham realizando suas festas temáticas, sempre com o pretexto de estar seguindo os protocolos determinados pelas autoridades sanitárias, numa demonstração de que não exista a pretensão de deixar o carnaval sem a programação específica.

CLUBES SOCIAIS DESATIVADOS

A grande ausência que se observa, são os bailes dos clubes sociais que há muito deixaram de existir, mas que continuam na lembrança e saudade de antigos foliões e no imaginário dos novos, que não tiveram o privilégio de conhecer. Os mais antigos lembram muito das alegres tertúlias carnavalescas realizadas pelo clubes sociais como o Clube Jaguarema, já extinto, havendo, no Anil, onde funcionou, apenas o terreno vazio; Casino Maranhense, cujo prédio, na Beira Mar, abriga hoje o Shopping do Cidadão com unidades de atendimento ao público de organismo do Governo do Estado; Grêmio Lítero Recreativo Português, que tinha grande patrimônio com uma sede recreativa do Bairro do Anil e outra social, na Rua do Sol, em frente à João Lisboa, que permanece em atividade, enquanto a do Anil foi vendida. O Lítero não promove mais as suas tão conhecidas tertúlias carnavalescas, mas continua ativo, graças ao empenho do advogado e jornalista, Carlos Nina e outros abnegados companheiros que não abriram mão do querido clube.

O aposentado José Ribamar Silva lembra, com muita saudade, destas festas de carnaval. Conta que era folião inveterado e frequentava os três clubes, sempre articulando namoros, acreditando no adágio popular de que amor de carnaval só dura três dias, mas que acabou casando com uma garota que conheceu no Casino Maranhense. Ele disse que esse seu amor de carnaval já dura 55 anos.

Conta a professora Maria de Lourdes que os bailes nestes clubes sociais eram de grande pompa, com toda sociedade presente. Estes clubes realizavam concursos de fantasias, nos quais participavam pessoas da sociedade e outros ligados à cultura, sempre com
[12:03, 01/03/2022] Célio Sérgio Novo: sempre com cobertura das emissoras de rádio locais, mas que haviam outros clubes que eram frequentados pela classe média como o Clube dos Sargentos, Califórnia Clube de Campo, Montese, União Recreativa da Boa Vontade – URBV e outros.

Ela disse que, por pertencer à classe média, frequentava estes clubes, onde conseguia um namoro em cada festa mas acabava logo no final da festa, para não deixar enraizar o relacionamento, pois assim era instruída pelo seu pai, um velho estivador. Casou com um técnico em Contabilidade, já falecido, que não gostava de carnaval.

BAILES DE MÁSCARAS

Na década de 40 a 50, surgiram na capital maranhense bailes de máscaras que eram festas populares nas quais as mulheres tinham que estar mascaradas para poder frequentar. A cada ano recebiam denominações diferentes como Gruta de Satã, do conhecido Moisés; Bigorrilho, do Dutra; Colombina, Vassourinha, Berimbau, Jovem Guarda, comandado pelo empresário Raimundo Nicomedes, conhecido como “Mundiquinho”, sempre na Rua Senador João Pedro, próximo ao canto da Fabril.

Estes bailes eram muito frequentados, visto que, sem serem identificadas, as mulheres da classe média e alta, ali se faziam presentes sem o risco de serem alvos de comentários dos fofoqueiros de plantão. Entretanto, as mulheres pobres, da periferia, eram predominantes.

Eram mulheres donas de casa, operárias das fábricas, trabalhadoras, mulheres que se permitiam a participar de forma desinibida sem terem seus valores morais afetados. Ali conviviam com as profissionais do sexo e até se deixavam levar por alguma aventura que chamavam “amor de carnaval”, que era efêmero, sem responsabilidade, mas que resultou em muitos casamentos.

Os bailes de máscaras não entraram em decadência e foram extintos por decisão unilateral, através de decreto, em 1965, pelo então prefeito Epitácio Cafeteira, que determinou o fim destes bailes.

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