BOM JARDIM – O programa Fantástico, da TV Globo, mostrou neste domingo (27) a grave situação da educação pública em Bom Jardim, cidade no interior do Maranhão. Mesmo após receber mais de R$ 650 milhões do Fundeb nos últimos 13 anos, o município mantém escolas improvisadas em igrejas, casas de moradores e até ao lado de fornos de farinha.
O retrato do abandono aparece na rotina de Eudinete, mãe de seis filhos, que caminha por uma estrada de terra até uma igreja usada como sala de aula. O prédio original foi interditado por risco de desabamento. “Um banheiro, pelo menos um”, desabafou.
Durante a apuração, a equipe de reportagem percorreu 11 povoados e encontrou escolas sem banheiro ou com sanitários improvisados, além de falta de água potável e professores que lecionam para turmas multisseriadas em espaços improvisados.
Histórico de corrupção
A precariedade coincide com o longo histórico de corrupção na prefeitura. Dos últimos cinco prefeitos, quatro foram condenados por desvio de recursos ou improbidade administrativa.
Em 2015, Lidiane Leite, conhecida nacionalmente como a “Prefeita Ostentação”, foi presa por desviar cerca de R$ 15 milhões da educação. Ela acumula dez condenações que somam quase 40 anos de prisão.
Depois dela, a vice-prefeita Malrinete Gralhada assumiu e também foi condenada a 15 anos de prisão. Em 2016, Manoel da Conceição Pereira Filho (Sinego) ficou apenas 70 dias no cargo, tempo suficiente para desviar R$ 600 mil. Já Francisco Alves Araújo, prefeito entre 2017 e 2020, foi afastado três vezes por corrupção.
Segundo o promotor Fábio Oliveira, que atuou em todas as investigações, o problema é estrutural: “Eles já ficavam esperando a vez deles entrarem para se corromper, para sugar o dinheiro de Bom Jardim.”
Situação atual
A atual prefeita, Christianne Varão (PL), também é investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por suspeita de desvio de verbas da educação. Ela alega que a cidade é extensa e que “não tem como resolver todos os problemas das escolas em quatro anos”, mas promete construir novas unidades.
Para o promotor Fábio Oliveira, a corrupção na área educacional é um “destruidor de sonhos”. Um estudante resumiu o desejo das crianças da cidade: “A escola ideal tem carteiras novas, piso bom, banheiro decente e uma caixa de água para a gente beber.”
Defesas
A defesa de Lidiane Leite afirmou que a maioria dos processos foi arquivada e que outros ainda estão em recurso. O advogado de Manoel da Conceição negou que ele tenha se beneficiado do cargo e alegou pressão política. A defesa de Francisco Araújo disse que ele foi afastado por perseguição de grupos rivais. Malrinete Gralhada não respondeu aos contatos da reportagem.
