Por Paulo Pestana
Quem ouviu o compacto simples de Maria da Graça, em 1966, com as músicas Eu vim da Bahia, de Gil, e Sim, foi você, de Caetano, não tinha a menor ideia do que aconteceria poucos anos depois. Quando os mesmos Caetano e Gil foram convidados pelo regime militar a deixar o Brasil, foi Gal Costa quem assumiu a responsabilidade de levar a Tropicália em frente. E implodiu o movimento.
Fa-Tal – Gal a todo vapor, gravado ao vivo e lançado em 1971, é um disco que subverteu a música popular de uma forma muito mais radical do que propunham os tropicalistas. Era um grito. Um ato que deixava claro o inconformismo a partir de uma postura que misturava influências diversas, do blues ao rock psicodélico, sem esquecer o Brasil e a Bahia.
Gal estava anos-luz à frente. O disco, ainda hoje, é reconhecido como um dos melhores já gravados no país. Mudou tudo o que veio depois. E este é o tamanho da cantora morta ontem.
Gal não era apenas a voz límpida, precisa, aguda e extensa que havia acabado de se apresentar com João Gilberto e Caetano na finada TV Tupi, cantando docemente. Fa-Tal era uma explosão catártica que, por coincidência ou não, deu origem — ou pelo menos anunciou — uma outra revolução musical, muito mais ampla. No ano seguinte, 1973, uma série de álbuns redefinidores foi lançada, e a MPB nunca mais foi a mesma.
FONTE: Correio Brasiliense