13/01/2025

Quando o trabalho vira doença

Ao reconhecer os sintomas da síndrome Burnout como um novo distúrbio psiquiátrico, a OMS lança um alerta contra os excessos na vida profissional

O termo “burnout” ainda não é popular, mas seus sintomas são bem conhecidos na vida contemporânea. Por isso, a inclusão dessa síndrome na revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciada na última semana de maio, se fez necessária. Por estar fora até agora, ficava difícil estabelecer diagnósticos, tratamentos, pesquisas e até decisões judiciais relacionadas ao distúrbio. O documento começa a valer a partir de 2022.

Resultado do estresse crônico no trabalho, a síndrome de burnout não é uma doença, no sentido clássico, mas um conjunto de sintomas cujas características são a “sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a trabalho e à eficiência profissional”, informa a OMS. O mal é desencadeado por uma mescla de fatores internos, como personalidade, e externos, como ambiente profissional, que tornado tóxico, deixa de ser fonte de subsistência e autonomia, para se transformar em um fator de comprometimento da saúde.

Foi o que aconteceu com Jenifer Guimarães, de 28 anos. Durante seis anos ela ocupou um cargo de liderança em uma grande livraria paulistana. Com a crise econômica, veio a demissão de funcionários. Os que ficaram acabaram sobrecarregados. No ano e meio posterior, ela sentiu os primeiros sintomas, como negligência das próprias necessidades, isolamento social e mudança de comportamento. “Eu ignorava, achava que era cansaço, até que um dia estava no ônibus e não sabia onde descer”, diz ela. Era o apagão, denominação da última fase da síndrome. Em tratamento, Jenifer passa por sessões de psicoterapia, toma medicamentos psiquiátricos e, claro, trocou de emprego.

É um caso comum. De acordo com Wagner Gattaz, psiquiatria da Medicina da USP, as pesquisas recentes mostram que o burnout atinge 27 milhões de brasileiros (13% da população). Nas empresas, as variações são amplas, indo de 5% a 35%, de acordo com o departamento ou função. “Quando os funcionários estão doentes, a produtividade cai e os reajustes dos planos de saúde ficam cada vez mais altos”, diz. Há quatro anos ele dá consultoria para empresas, que descobriram que podem economizar até 500% a cada ano em seus planos empresariais com diagnósticos precoces do novo distúrbio.

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