Blog do Edwilson Araújo
Jornalista é um trabalhador especial, porque lida com uma ferramenta delicada – a informação. Em tese, deveria usar a profissão para educar, instruir e desenvolver o senso crítico do público. Muitos o fazem, graças a Deus.
Mas, o fluxo de informação tem o controle acionário das empresas e dos políticos, transformando a profissão de jornalista em joguete dos interesses particulares ou de grupos familiares que controlam os meios de comunicação, as prefeituras, governos e parlamentos.
Nessa cruzada de interesses, os jornalistas vendem sua mão-de-obra porque precisam sobreviver, pagar as contas e comprar o leite das crianças.
Os blogs, que deveriam fugir à regra do controle das corporações político-econômicas sobre os meios de comunicação, acabaram reproduzindo o círculo vicioso.
Durante das campanhas eleitorais, os jornalistas vivem na corda bamba dos vencedores/derrotados e nas constantes mudanças de linha editorial dos jornais e das emissoras de rádio e televisão, que ficam à mercê dos sabores e desprazeres de quem pilota as verbas publicitárias do poder público.
No Maranhão, em especial, a sobrevivência da mídia impressa e eletrônica depende majoritariamente do Governo do Estado, da Prefeitura de São Luís, da Câmara dos Vereadores, Assembleia Legislativa e dos mandatos parlamentares no varejo.
Quase tudo está dominado. É difícil fugir a essa regra, a não ser quando um programa é arrendado e o operador temporário do meio dita a linha editorial do patrocinador.
RINGUE
Foi nesse contexto que ocorreu um dos piores momentos da campanha eleitoral de São Luís, durante a sabatina da TV Difusora, arrendada para o grupo político do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PDT), candidato à reeleição.
Por uma razão financeira óbvia, a televisão arrendada integra a artilharia pesada do prefeito contra o adversário Eduardo Braide (PMN).
Chamado ao ringue, Braide foi à sabatina da TV Difusora já sabendo que ia apanhar. Por isso, bateu, provocando os jornalistas sobre as suas relações empregatícias.
A partir desse momento, o que deveria ser uma sabatina virou um espetáculo protagonizado pelo jornalista Jeisael Marx, que perdeu a compostura e atropelou todas as regras da entrevista.
Marx deixou de lado a galhardia de cantador de bingo e engasgou-se no próprio sangue de âncora de programa policial, incorporando uma espécie de comunista bissexto com porrete na mão.
Assim, a chance de entrevistar o candidato sobre as propostas para a cidade transformou-se em um ringue.
Na ausência de um campo da comunicação pública no Maranhão, há pouca luz no fim do túnel para a cobertura eleitoral e para o jornalismo político, que seguirá ao sabor do controle acionário das emissoras.
A sabatina da TV Difusora traduz uma síntese: o futuro de São Luís é sombrio, seja qual for o vencedor.
FALSA POLARIDADE
É preciso acabar com essa “tese” de que Edivaldo Holanda Junior (PDT) é comunista e Eduardo Braide (PMN) é o candidato de José Sarney (PMDB).
Ambos pertencem a famílias tradicionais e usufruíram igualmente do sarneísmo, por meio dos pais Edivaldo Holanda e Carlos Braide, militantes históricos do grande campo reacionário do Maranhão.
Sob o falso argumento de que “Braide é Sarney”, a campanha do prefeito arrendou o Sistema Difusora de Comunicação/SBT, pertencente ao senador Edison Lobão (PMDB), um dos braços político-midiáticos do sistema oligárquico liderado pelo Sistema Mirante de Comunicação/Rede Globo, de propriedade da família José Sarney.
Em 2014, na campanha para o Governo do Maranhão, a TV Difusora serviu para impulsionar a campanha do primogênito de Edison, Lobão Filho (PMDB), na disputa contra Flávio Dino (PCdoB), que venceu a eleição.
Dois anos depois (2016), a mesma TV Difusora, arrendada, está sob controle do grupo político do prefeito-candidato Edivaldo Holanda Junior (PDT), correligionário do governador.
Presas às suas crenças e às relações com os patrocinadores, as linhas editoriais das emissoras alimentam um ciclo perigoso, onde o maior prejudicado é o cidadão/eleitor.
CONFUSÃO ELEITORAL
Para completar o caldo, este eleitor, já confuso com o tiroteio editorial, sofre o bombardeio dos institutos de pesquisa contratados por TVs e blogs, com resultados tão díspares que servem mais para confundir que esclarecer.
Apesar de tudo isso, não podemos desistir da profissão. Para além do jornalismo de porrete, há bons e criteriosos profissionais em diversos meios de comunicação, na internet e nas assessorias.
No mais, a campanha segue para a reta final e não existe qualquer perspectiva de um debate específico sobre o Plano Diretor de São Luís, instrumento jurídico e técnico fundamental para planejar a gestão da cidade.
Ninguém sabe o que pensam os candidatos sobre a Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano.
Quase não se fala no futuro de São Luís. Será uma cidade com vocação portuária e industrial? Como adequar essa vocação aos padrões mínimos de controle da poluição? O que fazer com a área do retroporto do Itaqui? São tantas perguntas sem resposta…
Para encerrar, é sempre bom lembrar: o jogo da política é bruto, mas não perde a ternura. Se Braide ganhar, ele fica no comando da verba publicitária da Prefeitura e tudo pode acontecer, até mesmo reatar relações diplomáticas com seu algoz da campanha.
Já vi esse filme várias vezes.