Dossiê Descritivo do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão foi disponibilizado no portal do Iphan para consulta pública. Anderson Corrêa Da equipe de O Estado O Dossiê Descritivo do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão, organizado pela Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Maranhão (Iphan), será uma das peças que integrará o acervo da exposição Bem do Brasil, mostra itinerante que será aberta amanhã, em São Luís. A exposição ficará em cartaz na Casa de Nhozinho (Rua Portugal) até dia 25 de julho, com visitações sempre de terça-feira a domingo, das 9h às 18h. O Dossiê é o produto final do trabalho de pesquisa e catalogação encaminhado para o Iphan, em Brasília, para pedido de inscrição do bumba meu boi como bem imaterial no Livro das Celebrações. Nele está um grande volume de documentos do universo desta manifestação cultural que serviram de subsídio para julgamento da procedência de seu registro como Patrimônio Cultural do Brasil, no dia 30 de agosto de 2011. Entre os conteúdos do Dossiê estão documentação fotográfica, pesquisas sobre a dança e a música do bumba meu boi, livros, revistas, trabalhos científicos sobre a manifestação folclórica e materiais como CD e DVD dos grupos de bois maranhenses. Também faz parte deste produto o Dossiê Descritivo do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão, organizado pela pesquisadora do Iphan, Izaurina Nunes, e que hoje se encontra disponível para consulta em sua íntegra no portal do Iphan. “A gente estruturou o dossiê de forma a mostrar o que é o bumba meu boi, que não é só uma forma de expressão. Em princípio, quando se olha o boi no arraial, se imagina que é só um folguedo, uma dança, mas não é isso”, afirmou Izaurina Nunes. Segundo ela, o boi, tal qual o Círio de Nazaré, que foi o primeiro bem inscrito no Livro das Celebrações, também deveria ser incluído nele. Festa – Para a pesquisadora, o boi está sustentado no tripé festa, arte e religião, que envolve não só o catolicismo popular, mas as religiões de matriz africana. “Diferentemente do Círio, que é uma celebração padrão católica que celebra a virgem de Nazaré com penitência, com reza, com contrição, o folguedo celebra o boi com festa e alegria. O que não significa que não tenha sacrifício. Um caboclo de pena dançar com aquela indumentária a noite toda e ainda ter de trabalhar na manhã seguinte é um sacrifício. Mas é feito com muito prazer”, comentou. Segundo a antropóloga, a brincadeira, além de celebrar o boi, que ao longo das civilizações sempre foi uma referência importante para os povos, também louva os santos juninos, porque ela é feita para eles. E ainda festeja o ciclo vital, porque, assim como as pessoas, o boi nasce, vive e morre. “Ele é batizado, simbolizando o nascimento. Durante as apresentações, é o ciclo de vida. E depois é sacrificado e devolvido para o santo dele, que é São João, simbolizando a morte”, especificou. A pesquisadora conta que durante esse trabalho, contudo, criou-se a expectativa em muitas pessoas de que o Iphan monitoraria os grupos, o que não é verdade. “A gente pode dizer o que é patrimônio, porque temos autoridade. Mas nunca podemos dizer o que é bumba meu boi. Quem diz o que é bumba meu boi são os que sabem fazer. Por mais pesquisa que eu faça, eu não vou ter a experiência de quem está lá todos os dias fazendo o boi”, declarou Izaurina Nunes. Uma das prerrogativas do registro que tornou o bumba meu boi um patrimônio era compartilhar o máximo de informações sobre o folguedo para que ele fosse preservado. “É importante que todo mundo conheça e se aproprie desse patrimônio. Isso faz parte do nosso trabalho. O Dossiê Descritivo foi disponibilizado na íntegra na internet e deverá ser publicado em breve e distribuído em bibliotecas e casas de cultura. O restante do material está disponível para consulta na sede do Iphan, em São Luís”, afirmou a antropóloga. Salvaguarda – Após 10 anos, a contar da data de registro no Livro das Celebrações, o órgão deverá revisar toda a pesquisa feita sobre o bumba meu boi. Por ser um patrimônio imaterial e estar inserido dentro de um processo social, ele poderá sofrer mudanças e não poderá ser preservado do jeito que se configurou. Por isso, é necessário elaborar um plano de salvaguarda. Ao longo dessa década, um comitê de salvaguarda formado por pesquisadores e participantes de grupos dessa manifestação folclórica fará o acompanhamento do bem registrado, a exemplo do que tem sido feito desde 2008 com o tambor de crioula, também registrado como patrimônio imaterial. O objetivo do comitê é pensar as questões do bumba meu boi, as dificuldades pelas quais passam os grupos e o que pode ser feito para preservá-lo. “Se precisa de oficina de bordado, a gente faz. Se tem problema com falta de penas de ema, procuramos discutir sobre isso”, disse Izaurina Nunes. O comitê é formado por entidades relacionadas diretamente com o bumba meu boi, entre eles o Iphan, a Secretaria de Cultura do Estado (Secma), Fundação Municipal de Cultural (Func), a Comissão Maranhense de Folclore (CMF), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), representado pelo grupo de pesquisa de Religião e Cultura Popular, que foi um dos signatários do pedido de registro. Além das entidades, também têm acento no comitê o Instituto São Marçal, que organiza a Festa de São Marçal, o Clube Cultural de Boi de Zabumba e Tambor de Crioula, a União de Bois de Orquestra, a Federação das Entidades Folclóricas e Culturais do Maranhão. Também foram convidados para as reuniões, representantes de cada um dos sotaques. Dossiê Descritivo do Bumba meu boi Quem tiver interesse em consultá-lo o caminho é www.iphan.gov.br. Na aba Patrimônio Cultural, escolha a opção Patrimônio Imaterial. Em seguida, abra os links Bens Registrados/Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão (item 23)/Banco de dados dos Bens Registrados/Bens Registrados (nesse campo, escolha o tipo de pesquisa, por exemplo, Ordem Alfabética)/Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão/Dossiê de Registro.
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