Por Euclides Moreira Neto
Passei nesta segunda feira pela área geográfic em que se monta o espaço sagrado dos desfiles de nossos grupos de cultura popular na região da Areinha – A Passarela do Samba – e percebi que já foi desmontada a minguada estrutura que ali existe para viabilizar a montagem da estrutura que acolhe o público ludovicense nos festejos carnavalescos, ou seja, a estrutura da passarela do samba propriamente dito. Só para se ter uma ideia, os postes de concreto que acolhem a iluminação daquele espaço já foram jogados ao chão, literalmente, todas as torres foram serradas e retirada daquele espaço e estamos há menos de dois meses do esperado desfile de Escolas de Samba , Blocos Tradicionais, Blocos Organizados, Tribos de Índios, Blocos Afros, etc.
Quando o poder público toma uma iniciativa como esta, de retirar a pouca estrutura que alí existe, é de se esperar que algo novo e diferente seja colocado no lugar, mas, o estranho em tudo isso é que os grupos interessados sequer foram comunicados e consultados sobre essa ação. Se já não bastassem as ações de improbidade que muitos agentes sociais do campo cultural vem denunciando no nosso meio, o referido poder público plasmado de sua peculiar arrogância, agora inova com o desmonte do que existe.
Para piorar a choradeira de sempre, mais uma vez este mesmo poder público está a atuar no nosso meio cultural e como sempre, a corda tende a quebrar para aqueles que são considerados mais fracos, que neste caso, são os grupos populares de nossa terra, que heroicamente vem resistindo ao longo do tempo as mais diferentes investidas dos arrogantes detentores do poder político. Nunca, em momento tão recente as nossas agremiações carnavalescas sofreram tanto para viabiliza-se enquanto agente protagonista de uma cultura vista como fator indenitário de um povo e que nos torna diferenciados.
Há uma ameaça concreta no nosso meio cultural e os gestores públicos parecem desdenhar da gente simples e humilde de nossa terra ao impor novos modelos de se brincar e curtir o carnaval maranhense, sem promover uma discussão aberta, ampla e democrática com os interessados nessa discussão. A atual gestão da cidade de São Luís só para lembrar, começou seu primeiro ano cancelando o desfile oficial do nosso carnaval, no ano de 2013, e foi um desastre para os praticantes desse campo de atuação e para a própria população local que viu uma temporada sem vida, morna e totalmente incongruente com a alegria e o modo de se divertir da gente que aqui vive.
Naquela ocasião, os prejuízos foram enormes. O poder público com a desculpa de que havia uma crise na gestão da cidade, resolveu transferir a maior parte dos recursos do carnaval para a área da saúde e esqueceu que o bem estar da população é um investimento saudável, que evita depressão, tristeza e doenças diversas, causando, por conseguinte, prejuízos aos cofres públicos, quando faz parcela dessa população procurar os deficitários serviços de saúde pública da cidade e do estado em que vivemos. É uma prática, que tem sem dúvida, prejuízos ou benfeitorias, que só o tempo e as investigações sérias e científicas podem comprovar, embora esses fatos são facilmente perceptíveis a olhos nus.
Agora, passados sete anos da gestão do atual Prefeito da cidade, caminha-se para a sua última investida com a formatação do carnaval local, com a aquiescência do poder estadual. Em meios a denuncias de favorecimentos de um grupo empresarial que promove práticas ilícitas, beneficiando segmentos da gestão, integrantes de igrejas evangélicas, manipulação de resultados, etc., os organizadores veem-se indignados com a falta de decoro da gestão pública com os diversos grupos do campo da cultura popular. O pior de tudo isso, é que o Ministério Público não faz nada. Até quando vamos ter que conviver com esses absurdos?
Só para se ter uma noção do que estar a acontecer, mais de 20 grupos de Blocos Tradicionais já decidiram que não participarão do concursos oficial promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. O principal argumento é a moralização do carnaval e da prática do concurso, que mais uma vez está corroída e sem transparecia com o objetivo de promover as mesmas ilegalidades que vem se verificando há sete anos por aquele órgão público de cultura. Basta! Já está na hora de ouvir os atores que efetivamente fazem a nossa cultura popular local.
Há muitos outros pontos a serem destacados, mas vamos tratar desse mais há frente, pois queremos iniciar uma discussão de forma direta e objetiva com os atores de nosso carnaval e da cultura local. Enquanto isso, esperamos que os gestores deixem suas vaidades de lado de olhem para quem aqui vive e merecem respeito. Impor modelos de carnaval de outras partes do país não atende as nossas necessidades. Há e não esqueçam que os organizadores, praticantes e apreciadores do meio cultural também votam e elegem seus representantes, lembro isso porque estamos às vésperas de um pleito de escolhas do nossos novos gestores.
(*) Euclides Moreira Neto – Professor Mestre de Comunicação e investigador cultural.