12/12/2024
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Família de mulher que morreu após ingerir Noz da Índia pede investigação aprofundada do caso

Produto é comercializado no Brasil com resultados positivos para muitas pessoas; mas há contraindicações

Funcionária pública utilizou a semente por dois meses e teve comprometimento no pâncreas e no fígado; produto foi suspenso pela Vigilância Sanitária.

SÃO LUÍS – A Vigilância Sanitária Municipal recolheu ontem, de feiras, lojas de produtos naturais e farmácias o artigo conhecido como noz-da-índia. A ação veio após a morte de Rachel Cristina Ferreira Araújo. Segundo a família, ela utilizava a semente há pelo menos dois meses como agente emagrecedor e faleceu, supostamente, vítima dos efeitos colaterais do produto, que promete eliminar gordura, combater a celulite, tonificar os músculos, entre outras soluções.

Segundo a vigilância, a medida é uma apreensão cautelar, baseada no artigo 10, inciso IV, da Legislação Sanitária Federal, que caracteriza como infração extrair, produzir, fabricar, transformar, preparar, manipular, purificar, fracionar, embalar ou reembalar, importar, exportar, armazenar, expedir, transportar, comprar, vender, ceder ou usar alimentos, produtos alimentícios, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos dietéticos, de higiene, cosméticos, correlatos, embalagens, saneantes, utensílios e aparelhos que interessem à saúde pública ou individual, sem registro, licença, ou autorizações do órgão sanitário competente ou contrariando o disposto na legislação sanitária pertinente.

Os produtos vendidos em São Luís não possuem nenhuma autorização ou registro para comercialização, e as embalagens, na maioria possuem apenas o nome do produto e mais nada, o que caracteriza a infração. Ontem, na maioria das lojas da cidade, o produto já havia sumido das prateleiras.


Venda

Quem trabalha com o produto ressalta que ele nunca foi vendido escondido e nem é proibido no estado. Segundo Isabella Gama, que afirma ser pioneira na venda em São Luís, na capital maranhense existem diversos estabelecimentos que vendem outro tipo de semente, conhecida como “chapéu-de-napoleão”, como se fosse a noz-da-índia. O chapéu, sim, seria altamente tóxico e causaria distúrbios digestivos, entre outras complicações, caso seja engolido.

“Antes de sair acusando e culpando a noz-da-índia verdadeira pela morte de alguém, é preciso investigar e provar, por meio de exames, o que realmente aconteceu, e é importante ressaltar que nem todas as pessoas podem fazer o uso da semente e tem de ter consciência disso”, afirmou a vendedora.
Isabella Gama ainda frisou que antes de começar a vender fez o uso da noz por seis meses, e nesse tempo perdeu 17 kg, um feito nunca antes alcançado com nenhum outro produto. Como as pessoas viam o efeito, ela passou a comercializar e a se utilizar como vitrine. Isso foi há três anos e nesse tempo todo nenhuma de suas clientes apresentou problemas.

Ainda segundo a vendedora, existem restrições quanto ao uso do produto, que ela faz questão de repassar aos seus clientes. Entre essas restrições estão pessoas com problemas cardíacos, urológicos, gastrointestinais, hepáticos, em período de gravidez ou amamentação, idosos, crianças, alérgicos e pessoas em qualquer tipo de tratamento médico. “Tudo isso é citado, explicado e ressaltado para todas as clientes. Acredito na eficácia do produto que vendo e tenho várias clientes satisfeitas para comprovarem que nunca existiu qualquer caso de doença causada pela noz-da-índia, trabalhamos com a orientação para os clientes e não vendemos semente para pessoas que não podem fazer o uso”, revelou.


Óbito

Rachel Araújo faleceu na noite de quinta-feira, dia 12, após ter apresentado pelo menos cinco episódios de diarreia com fezes líquidas, sem sangue, ao mesmo tempo em que tinha vômitos e dores abdominais. A cunhada de Rachel, a médica pediatra Marizélia Ribeiro, pensou a princípio que se tratasse de um episódio infeccioso.

A situação, no entanto, evoluiu para uma hemorragia digestiva e terminou no óbito da paciente. Os exames solicitados durante esse tempo teriam apontado altos índices de comprometimento no pâncreas e no fígado de Rachel. O atestado de óbito mostrou a causa da morte como choque hipovolêmico, hemorragia digestiva, infarto mesentérico, hipertensão arterial, esteatose hepática e congestão passiva do fígado.

A família soube que Rachel utilizava a noz-da-índia, às vésperas da morte, quando ela já estava internada na área vermelha, para pacientes graves da UPA. Na ocasião, a cunhada teria ouvido de funcionários da UPA que outras pessoas já haviam sido internadas ali por causa do uso da semente.
Edwilson Araújo, irmão de Rachel, e sua esposa Marizélia Ribeiro, já protocolaram nas vigilâncias sanitárias municipais e estaduais solicitações para uma investigação mais aprofundada sobre os reais efeitos da noz-da-índia, tanto no que se diz respeito aos seus efeitos benéfico, quanto aos possíveis malefícios. A princípio, tanto a Secretaria de Estado de Saúde (SES) quanto Secretaria Municipal de Saúde (Semus) emitirão uma nota técnica sobre o produto e proceder com o recolhimento do mesmo das prateleiras, até que haja um estudo mais completo sobre o caso.


O que é noz-da-índia?

É um tipo de semente, cujo nome científico é Aleuritesmoluccana. A ela foi atribuída a característica de auxiliar na perda de peso. É uma substância completamente natural, que também promete reduzir o colesterol e triglicérides; combater a celulite; reduzir a fome e a vontade de comer doces; atenuar a ansiedade; prevenir a prisão de ventre; prolongar a sensação de saciedade; melhorar a textura da pele e dar brilho aos cabelos.
SAIBA MAIS

Em nota, a Superintendência de Vigilância Sanitária do Maranhão (Suvisa) informou que determinou a suspensão da comercialização do produto Noz da Índia, tendo em vista os relatos recentes de pessoas doentes e uma notificação de óbito, em investigação. A Suvisa informou que o produto, indicado para emagrecimento, não possui comprovação da eficácia e da segurança do seu uso, além de não possuir registro no Ministério da Saúde. A Superintendência alertou, também, para a suspensão imediata do consumo da noz-da-índia. Nos casos de pessoas que adoeceram após uso do produto, as autoridades sanitárias do município ou do Estado devem ser notificadas para as providências cabíveis. Por fim, a Superintendência esclarece que por se tratar de produto sem registro, os estabelecimentos que estão comercializando a noz-da-índia estarão sujeitos às penalidades sanitárias previstas em lei.



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