Na partida de volta, no próximo dia 30, o Grêmio joga pelo empate para decidir o título. Se perder por um gol de diferença, a vaga será resolvida nos pênaltis.
A torcida do River Plate que lotou o estádio passou boa parte do jogo cantando músicas que variavam na melodia, mas tinham a mesma expressão na letra. O “pongan huevos”. Coloquem ovos, um pedido em gíria vulgar para que a equipe mostrasse raça.
Era mais frustração do que uma exigência. Os argentinos atuaram com vontade, mas não encontraram um jeito de superar os brasileiros.
O Grêmio se defendeu porque não sabia como atacar. Com Jael isolado na frente, se apoiou em duas linhas defensivas para impedir o River Plate de ameaçar. Deu certo.
Renato Gaúcho pode dizer que não havia muito o que fazer. Quem há de contestá-lo? Entrou em campo sem suas duas peças mais perigosas na frente. Luan não se recuperou de ruptura parcial no ligamento da sola do pé direito. Everton, artilheiro gremista na Libertadores, com cinco gols, ficou fora por lesão muscular na coxa direita.
O sistema de marcação funcionou porque o time visitante bloqueou todas as jogadas pelas laterais dos argentinos. O Grêmio esperava uma bola, uma falha de marcação do rival. Esta veio em cobrança de escanteio de Alisson que Michel desviou.
Foi o primeiro gol do volante depois de cinco meses afastado, em recuperação de lesão muscular. Ele voltou a jogar apenas no último sábado, contra o América-MG, pelo Campeonato Brasileiro.
Irritada com o sistema defensivo do rival, a torcida da casa se enfureceu como árbitro peruano Victor Carrillo que, segundo ela, inverteu faltas a favor do Grêmio. Quando Maicon derrubou Pinola e infração foi marcada para o River, milhares de pessoas explodiram em um aplauso irônico.
O Grêmio levou o adversário ao limite do desespero com paralisações da partida, catimbas e quedas em campo para atendimento médico. Cada vez que isso acontecia, o público no Monumental se voltava para os cerca de 3,5 mil torcedores visitantes, encurralados em um canto da arquibancada, para cantar que eles eram “cagões”.
“Cagão” é tudo o que o Grêmio não foi no Monumental. Disciplinado taticamente e com fé cega no treinador, a equipe gaúcha ensaia se tornar o que foi o Boca Juniors no início do século, quando conquistou três títulos continentais em quatro anos (entre 2000 e 2003): um clube profissional em Libertadores, especialmente em partidas fora de casa.
Atual campeão e em busca do bi, o Grêmio quebrou invencibilidade do River Plate de um ano (dez jogos) no torneio.
Quanto mais o tempo passava, mais os comandados do técnico Marcelo Gallardo se enervavam e não justificavam a condição de elenco mais técnico e ofensivo do futebol argentino. O próprio Renato o considera superior ao Boca Juniors, que enfrenta o Palmeiras nesta quarta (24). E com o pavor do rival, o Grêmio ficava mais e mais à vontade em campo.
“Não me importa se ganhe, não me importa se perca. Ponham ovos milionários [apelido do clube], onde esteja eu sempre estarei”, insistia em cantar o público no Monumental, em noite que a torcida do River Plate foi muito superior à sua equipe.