Por Euclides Moreira Nato (*)
Dando continuidade a nossa reflexão sobre a necessidade de mantermos o espaço da Passarela do Samba para ser utilizado como um local sagrado, para viabilizar os concursos oficiais dos diversos grupos carnavalescos, que normalmente são produzidos artisticamente para competir naquela área geográfica, eu vem chamar atenção dos gestores públicos de que essa medida é vital para a manutenção de dezenas de manifestações culturais em nossa terra.
Nosso argumento se fundamenta no fato de que nenhum grupo cultural desse campo de atuação irá se produzir se não houver a estrutura física e arquitetônica para viabilizar tais concursos. Por isso, todos os anos o poder público é chamado a contratar uma estrutura física que atenda essas necessidades logísticas dos desfiles carnavalescos.
Desse modo, a proposta de ser construída uma “arena multiuso” no local da Passarela do Samba de maneira alguma atende as necessidades das Escolas de Sambas, dos Blocos Tradicionais do Maranhão, dos Blocos Organizados, das Tribos de Índios e outras manifestações que participam dos concursos oficiais na temporada oficial das festas do ciclo carnavalesco, ou seja, naquela semana que antecede o período da quaresma, segundo o calendário da igreja cristã. O carnaval, que é conhecido como a festa da carne é também uma fonte inesgotável de criatividade que gera trabalho, emprego e renda para centenas de pessoas que se dedicam apaixonadamente para as manifestações desse ciclo festivo.
Aliás, esse ciclo festivo é também uma fonte cada vez mais crescente para atrair turistas, visitantes, apreciadores, praticantes, pesquisadores científicos (também chamados investigadores) e pessoas anônimas que voltam seus olhares todos os anos para esse período comemorativo, como uma atividade ritualística para curtir e participar dessas festividades aquecendo as redes criativas e a cadeia produtiva da cultura, da história e do turismo local, atendendo os anseios do povo apreciador e dos empresários que atuam nesses campos específicos, tornando nossa região uma das referências das festividades momescas do nosso país.
E são as manifestações culturais de cada localidade que dão o grande diferencial a esse público curioso e consumidor da festa momesca, por isso a manutenção da Passarela do Samba, que sempre foi reivindicada pelos organizadores dos diversos grupos desse ciclo festivo como forma de se garantir que essa estrutura esteja disponibilizada para a realização dos concursos de cada categoria que dela faz uso anualmente, a exemplo das promessas religiosas que devam ser atendidas, sob pena de se causar transtornos sociais ao bem estar da população que aguarda ansiosamente por esse momento lúdico.
Além disso, ao se reivindicar uma Passarela do Samba, em formato de sambódromo, como existe em várias cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Vitória, Belém, entre outras cidades), os organizadores de tais manifestações sempre alardeiam que essa estrutura era também para atender outras atividades culturais que são normalmente desenvolvidas ao longo do ano na cidade de São Luís, estando entre elas, show artísticos, desfiles comemorativos, festas de reggae, arraiais juninos, ensaios de grupos populares, festivais de dança, cultos e eventos religiosos, atos comemorativos como o aniversário da cidade, exposições culturais, feiras de pequenos e médios portes de cunho comunitário, entre outras ações de caráter coletivo e popular, sendo assim, a Passarela do Samba será também um espaço multiuso e sua estrutura é bem mais abrangentes que uma arena em formato de meia lua, que não comporta as necessidades dos desfiles macros do período carnavalescos.
Nesse contexto, é necessário lembrar que a Passarela do Samba como espaço multiuso é imprescindível para a continuidade dos grupos das diversas manifestações culturais do ciclo carnavalesco, junino e religioso da nossa cidade. Mas é especialmente às manifestações do carnaval que ela se torna fundamental, considerando que é ali onde são realizados os tradicionais concursos competitivos com seus enredos carregados de símbolos alegóricos, os quais, como metáfora da realidade, induz a população a sonhar ludicamente com os mistérios de enredos e das óperas populares, que só um desfile carnavalesco pode proporcionar.
O pior de tudo isso, é que o projeto arquitetônico da tal “arena multiuso” não foi apresentado e nem discutido com os protagonistas do campo da cultura popular, os principais interessados no seu uso. Ainda a tempo de rever essa ação inconsequente e mal elaborada proposta. É oportuno lembrar também que os protagonistas da festa carnavalesca também votam e elegem seus representantes, pois estamos em um ano de eleições, as quais deverão ocorrer até o final do ano, por isso é estratégico que os atuais representantes do povo, bem como os pretensos candidatos a essa representação colocarem essa temática nas suas plataformas de atuação para conquistar o referido mandato.
Dito isso, fica o apelo para os gestores públicos locais revejam a decisão de construir uma “arena multiuso” no único local que a cidade de São Luís ainda dispõe para realizar a festa competitiva de nossos grupos carnavalescos em uma estrutura congruente com as necessidades desse campo de atuação. Caso isso não ocorra, esses gestores estarão decretando a morte de dezenas de grupos e empobrecendo nossa cultura popular, ainda considerada uma das mais diversificada do país. Se isso ocorrer será ruim para toda a cadeia produtiva da cultura, da história e do turismo de nossa capital. Pense nisso. Continuamos a atravessar a pandemia do Covid 19.
São Luís, 02.08.2020.
(*) Professor Mestre em Comunicação Social e Investigador Cultural.

