Semana decisiva da COP 30
Foi um ano de espera – e agora falta menos de uma semana para que a COP 30 seja medida como sucesso ou fracasso. A primeira semana da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas misturou jambu, tecnobrega, açaí (ou juçara) e carimbó sob os olhos do mundo.
Houve tentativa de invasão da área oficial por grupos indígenas, pavilhões ainda em obras e goteiras que voltavam a cada chuva de fim de tarde. O Brasil, em seu melhor e seu pior, apareceu na COP 30 como vitrine global.
A portas fechadas, porém, ressurgiu o problema recorrente das 29 edições anteriores da Conferência das Partes: dinheiro. Poucos países desenvolvidos – mais preocupados com guerras, crises energéticas e suas próprias economias – demonstram disposição de abrir os cofres para apoiar nações em desenvolvimento na adaptação aos eventos extremos que já se intensificam.
Antes mesmo da abertura da COP, o secretário-geral da ONU, António Guterres, praticamente havia admitido que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C não será cumprida.
Resta, portanto, a tarefa urgente da adaptação, termo técnico para fortalecer cidades e países contra furacões, enchentes, secas severas e ondas de calor.
Indicadores de adaptação
A presidência brasileira quer que os países deixem Belém com um “tema de casa”: avançar sobre uma lista de cem indicadores de adaptação, que permitiriam avaliar se uma nação está progredindo ou não. Mas o consenso está longe.
O grupo africano quer adiar a adoção das metas por dois anos – alegam que, sem financiamento, não há como se adaptar, e também buscam ganhar tempo para a COP 32, que ocorrerá na Etiópia.
O Brasil, elogiado por sua mediação técnica e independente, tem evitado pressionar: afinal, conduz a conferência. Já a União Europeia cobra rapidez.
Pressões e contrapressões
Outro ponto sensível é o Roadmap Baku-Belém, plano estratégico elaborado por Brasil e Azerbaijão para alcançar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático para países em desenvolvimento. Reino Unido, Quênia e União Europeia apoiam a iniciativa. Japão, China e Arábia Saudita a contestam.
O Japão e a China afirmam que o plano envolve instituições como o FMI e o Banco Mundial, o que fugiria do escopo da COP; a Arábia Saudita tenta reabrir negociações para reduzir o valor proposto.
Com o início da segunda semana, quando a agenda política volta ao centro, cresce a expectativa pelo retorno de ministros a Belém. São eles que autorizam recursos e destravam negociações.
Em alguns casos, presidentes e primeiros-ministros costumam retornar na reta final.
Começa a contagem regressiva
Agora, começa a contagem regressiva até sexta-feira. Divergências costumam atrasar o documento final – em Baku, no Azerbaijão, o texto só saiu no domingo, dois dias após o prazo. Cada palavra exige consenso: é como colocar 198 condôminos numa assembleia e esperar que todos concordem.
A COP 28, em Dubai, ficou marcada pelo compromisso de uma “transição para longe” dos combustíveis fósseis. A COP 29, em Baku, afundou no valor insuficiente de US$ 300 bilhões, longe dos US$ 1,3 trilhão desejados.
O que ficará de Belém? Espera-se que seja mais do que jambu, tecnobrega, açaí, carimbó – e sua gente hospitaleira. Os qualificativos foram muitos: COP da Amazônia, COP da verdade, COP da implementação. Que não seja apenas a COP das palavras.
Imersão aos olhos de Sebastião Salgado
Se tudo desse errado, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas já teria cumprido o seu papel de revelar ao mundo o tema mais comentado nos eventos sobre ambiente e menos conhecido de verdade: a Floresta Amazônica, um dos principais motores climáticos do planeta.
Belém tem oportunizado essa experiência em vários sentidos: seja nas ruas, seja nas imersões culturais organizadas à Ilha do Combu ou em Cotijuba, nos banhos de rio, nas ervas, nos saberes que estão por toda parte.
Mas quem deseja um rápido aprendizado sobre a maior floresta tropical do mundo tem essa chance ao visitar o Museu das Amazônias, onde estão exibidas imagens do maior de todos os fotógrafos brasileiros, Sebastião Salgado.
Quem já esteve ali no reformado Porto Futuro, pode entender, com profundidade, a razão de a Amazônia ser tão importante para o mundo. Na verdade, sempre aprendemos isso nos livros das escolas, nas reportagens, nas experiências de viagens, mas o que Salgado faz é tocar, com seu preto e branco nevrálgico, os sentimentos.
Imensidão, urgência, finitude do humano são sensações que nose afligem de imediato.
Várias Amazônias
O primeiro ponto a entender é: por que o Museu se chama das Amazônias? Afinal, não é uma floresta só? Não, e aí você começa a desconstruir tudo: não é homogênea, contínua ou igual em toda a sua extensão. O termo no plural reconhece que a região é formada por vários territórios, realidades, povos, ecossistemas e dinâmicas socioeconômicas diferentes.
Para além das fronteiras geográficas – a Amazônia está, além do Brasil, em oito países; mas tem a Amazônia urbana (Belém e Manaus são metrópoles de milhões de habitantes) –, há a Amazônia das hidrelétricas, da mineração (Carajás, garimpo), da fronteira do desmatamento, das ilhas e dos rios, da bioeconomia. Há também a Amazônia preservada, desmatada, em regeneração, urbanizada.
Um dos grandes aprendizados na exposição aparece nas sombras das fotos do grande Salgado: a evaporação a partir da floresta, as nuvens, os rios voadores. As árvores gigantes, como a sumaúma, lançam na atmosfera toneladas de água por dia, que alimentam o sistema dos rios voadores que irrigam o Centro-Oeste e o sul do Brasil e sustentam a economia agrícola.
Salgado nos deixou em maio deste ano, a tão poucos meses da COP 30. Logo ele que tanto conheceu a floresta e teria tanto a nos dizer. Ou melhor, mostrar. Mostrou. Seu legado está vivo. E mudando mentes.
Na Green Zone
Cabeças pensantes e bem antenadas como as do desembargador Ricardo Duailibe ou do CEO do Grupo Atlântica, Cristiano Barroso Fernandes, para citar apenas dois nomes, por exemplo, registraram curiosidades sobre a Green Zone, a área de acesso gratuito da COP 30, que combina participação popular com empresas de tecnologia e inovação. _
Ali se pode encontrar muitos indígenas levantando suas bandeiras nas pautas ambientais e vendendo seus produtos artesanais. Os grupos participam de debates lado a lado com empresários e representantes do poder público.
No espaço da Itaipu Binacional, é possível entrar em uma cabine de realidade virtual e fazer uma imersão em como se dá a transformação da água em energia elétrica.
O pavilhão do Brasil Biomarket é um espaço onde os visitantes podem conhecer produtos como pólen de abelha sem ferrão, farinha de mandioca do Pará, grãos de açaí do Amazonas desidratados e moídos, xampu nutritivo, bio esfoliante a partir de andiroba, entre outros. É um mergulho nas origens, sabores, saberes e inovações que transformam a biodiversidade do Brasil em impacto positivo.
Espaço para o agronegócio
Além da Green Zone e da Blue Zone, uma das atrações da COP 30 é a AgriZone, um espaço para o agronegócio.
Para os especialistas, a importância de um espaço desse na COP 30 é que a atividade agrossilvipastoril se tornou parte da solução desde a COP de Glasgow, quatro anos atrás, quando o seu presidente, Alok Sharma, determinou a formação do Grupo Koroni Via, que trouxe as atividades agropecuárias para parte da solução das questões do aquecimento global e nada mais, nada menos, que a ONU buscou no Brasil, através do nosso programa de agricultura de baixo carbono, como pauta precursora e principal exemplo.
A ONU buscou a formação mundial das atividades agrossilvipastoril, que devem ser utilizadas no mundo para atividades resilientes, sustentáveis e produtivas. E desde então, a pauta agrária, toda a questão da produção agropecuária e silvícola, se tornou parte da solução.
Imagem do agro poluente mudou
Um estudo divulgado diz que a cada hectare cultivado, o Brasil mantém dois hectares com vegetação nativa. A imagem do agro poluente mudou.
Especialistas dizem que quem trata assim a pauta ambiental é política. Nós tratamos ela como ciência e tecnologia. E o Brasil é o modelo de sustentabilidade. E esse trabalho da Embrapa, lançado no primeiro dia em Belém, na AgriZone, ratificado por toda a COP, pela ONU e pela FAO, ele é o exemplo disso: 66% do território brasileiro é de áreas preservadas. E 29%, ou seja, quase metade da área preservada, está dentro das propriedades.
Das propriedades privadas, desde a agricultura familiar, passando pela média propriedade, e a agricultura empresarial. Então, nós somos o exemplo mundial preconizado pela COP, pela ONU. E isso tem que ser muito importante, trabalhado pela sociedade brasileira.

