Lula Marques/Folhapress
Tiririca (PR) na Câmara, sem bigode
Oito meses depois de assumir o mandato, o palhaço Tiririca já sabe responder o que faz um deputado federal: “É uma pessoa que trabalha muito e produz muito pouco”, diz. Isso porque a Câmara, na opinião dele, “é uma fábrica de loucos. Uma fábrica de loucos”. Os parlamentares muitas vezes varam as madrugadas em discussões intermináveis em que “ninguém escuta ninguém”. “Um deputado fala e nenhum presta atenção nele. Outro dia mesmo tinha um fazendo um discurso superbacana, sobre educação. Outro pediu a palavra. E reclamou: ‘Já pedimos para instalarem tomadas novas aqui e não instalaram’. É uma coisa de louco.”
Tiririca fica sempre calado em seu lugar, observando. “Se eu fosse fazer uma comédia disso aqui, seria o maior sucesso. Mas eu nem posso. Porque faço parte daqui. E tem o decoro parlamentar.” Ele não dá as declarações em tom de crítica. Apenas constata os fatos. “Tiririca tem razão. Mandou bem. Uma pessoa normal que assiste à sessão da Câmara pela primeira vez acha mesmo que é coisa de maluco”, diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Eleito com 1,3 milhão de votos, a segunda maior votação da história para o cargo, Tiririca faz uma careta quando questionado sobre a possibilidade de concorrer à reeleição, em 2014. “Meus assessores dizem que todo mundo, no fim, gosta daqui, quer voltar. E que comigo vai ser assim também. Mas, por enquanto… não sei, não.”
A caminho do cafezinho da Câmara, onde lancharia um escondidinho de carne seca, Tiririca é parado a todo momento para dar autógrafos e tirar fotografias, até com outros deputados. Poucos reparam na novidade: ele tirou o bigode. “No fim de semana, eu tomei uns conhaques e fui fazer a barba. Aí meu filho disse: ‘Olha, pai, teu bigode ficou torto!’ Raspei o bigode.”
As pessoas entregam a ele CDs, cartas para encaminhar aos apresentadores Gugu Liberato, Tom Cavalcante e Ana Hickmann, seus colegas da TV Record, desenhos, livros de piadas. E fazem pedidos. Muitos pedidos. “O mais louco foi o de um cara que queria que eu entregasse uma música dele para o Julio Iglesias gravar. E nem era um CD. Era só um papel com a letra. Ele ficou uns cem dias me seguindo na Câmara.” ? Tiririca recebe 200 pessoas por dia em seu gabinete. “Às vezes, temos que organizar numa fila”, diz a assessora Edith Silva. Sempre grudada no deputado, atendendo o seu celular, pegando recado de parlamentares, alertando Tiririca quando jornalistas se aproximam, ela já ganhou até o apelido de “Florentina”.
“As pessoas me pedem cadeiras de rodas, emprego. E a gente encaminha. Outro dia uma senhora pediu medicamentos. Ligamos para o [hospital] Sarah [Kubitschek]. As pessoas sabem que, com um telefonema da gente, um abraço [o pedido é atendido]”, diz Tiririca. “Isso é sensacional.” O contato com “o povo”, diz, é uma das coisas boas do mandato. “Nos meus shows, eu fico no palco, distante. Aqui, não. Todos me param no corredor.”
“E tem gente até do Sul que vem aqui só pra me ver”, diz. “Torcem, rezam por mim. Uma senhora de 80 anos me disse: ‘Cê já apanhou? Então agora você vai apanhar’. E bateu com força nas minhas costas, de tão emocionada.”
Ele diz que não foi atingido pelos escândalos de seu partido, o PR. “Graças a Deus, não respingou em mim, não. Também, entramos só agora! As pessoas sabem que não temos nada a ver com isso.”