Na tarde de sábado 4, Fabiano Santos Gonzaga, 28 anos e 1,83 metro de altura, bebia cerveja com dois amigos em uma mesa à beira da piscina do Caldas Termas Clube, o mais tradicional da cidade turística de Caldas Novas, no interior de Goiás. A música sertaneja tocava alto e o sol estava escaldante. Fabiano decidiu ir à sauna. No momento em que entrou na sala, havia duas pessoas: um senhor de cerca de 60 anos e um adolescente de 15 – loiro, de olhos azuis, quase da altura de Fabiano, gordinho como um querubim. De sunga, Fabiano sentou-se de frente para o menino, no banco à direita da entrada, ao lado da cascata de água quente. O homem mais velho logo saiu. A cena que se seguiu parte do relato do adolescente, registrado em um inquérito policial que corre sob sigilo de Justiça. Assim que se viu a sós com o menino, Fabiano deixou seu lugar e foi sentar-se ao lado dele. Tentou puxar conversa e, em seguida, beijou-o na boca e segurou seu pênis. Atordoado, o menino levantou-se para fugir, mas Fabiano não deixou. Correu para bloquear a porta, baixou a sunga e disse ao menino que ele só sairia dali se praticasse sexo oral. Amedrontado, o menino obedeceu, e só depois que “um líquido molhou” sua língua foi que Fabiano deixou o jovem ir embora. O garoto, então, saiu da sauna e correu para lavar a boca no banheiro.
A cena é ainda mais abjeta quando se sabe que Fabiano é um padre católico e sua vítima, um menino portador de retardo mental que faz com que suas atitudes e sua compreensão do mundo se assemelhem às de uma criança de 9 anos de idade. Ele mora com a família em Brasília. É filho único. Seu pai é militar e a mãe, fisioterapeuta. É ela quem relata o que se passou depois que o filho voltou da sauna. Ela o aguardava no restaurante do clube com duas amigas. O menino chegou agitado e disse que queria ir embora para escovar os dentes. Quando ele contou o que havia se passado na sauna, a mãe desesperou-se. Puxou-o pela mão e insistiu para que tentasse encontrar o homem que havia feito aquilo. Não demorou para que deparassem com Fabiano, que tinha voltado para a companhia dos amigos na mesma mesa à beira da piscina: “Por que você fez isso com meu filho?”, perguntou a mãe do menino. Descontrolada, gritou com Fabiano e o xingou. O padre permaneceu calado. A cena chamou a atenção de quem estava por perto, a polícia foi acionada e todos foram para a delegacia.
Católica, a mãe do garoto disse que ficou chocada ao saber que o molestador de seu filho era padre. “Na hora que eu o ouvi declarando a profissão na delegacia, quase morri”, disse. Fabiano foi preso assim que terminou de prestar depoimento. Ele é responsável pela paróquia de Frutal (MG), ligada à Arquidiocese de Uberaba. A paróquia reúne até 200 fiéis nas missas que ele comanda diariamente.
Em um dos depoimentos que deu à polícia, o padre defendeu-se dizendo que não poderia ter abusado do adolescente, já que é heterossexual e celibatário. Mentiu. O padre Fabiano não é uma coisa nem outra, como mostra seu celular, apreendido pela polícia. O aparelho registra conversas eróticas com mais de cinquenta homens desde outubro de 2014. Muitas incluem trocas de nudes, inclusive do padre, que, no mesmo período, marcou encontros com 38 homens. A delegada Sabrina Leles Miranda, responsável pelo inquérito, define o caso com precisão: “Ser homossexual não incrimina ninguém. Mas, nesse caso, o padre está acobertando sua verdadeira orientação sexual para se livrar de uma acusação grave”. Ou seja: a homossexualidade de um padre só é problema para a Igreja Católica, que proíbe tal orientação sexual entre seus pares, mas o abuso sexual de um menor de idade é um problema para toda a sociedade. É um crime.
Com reportagem de Kalleo Coura e Victor Fernandes