Cristiano Ronaldo recusa tatuagens e piercings. Tudo por uma boa causa
O melhor futebolista do mundo sabe que o desenho de uma só tatuagem no seu corpo, ou a colocação de um piercing, atrapalhariam uma das suas rotinas. E valores mais altos se levantam.
uando um tsunami de tatuagens invade os corpos dos desportistas em geral, e dos futebolistas em particular, Cristiano Ronaldo é das poucas exceções à regra. O craque não tem qualquer aversão aos desenhos de tinta no corpo, mas um valor mais alto se levanta: é dador regular de sangue. E uma coisa pode impedir a outra.
Na concretização de tatuagens, “há agulhas que violam a integridade da pele e existe sempre a hipótese de encontrarem vasos sanguíneos e de os perfurar, transmitindo, assim, um eventual vírus”, explica a imuno-hemoterapeuta Gracinda de Sousa, da direção do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST). O mesmo risco potencial é atribuído à perfuração da pele para a colocação de um piercing. Estão em causa vírus tão perigosos como os da sida ou da hepatite C. Mas, na verdade, qualquer agente de doença teria efeitos funestos num paciente fragilizado e a necessitar de uma transfusão.
Por isso, o protocolo do IPST impõe uma quarentena preventiva de quatro meses a qualquer dador que, nos quatro meses anteriores à dádiva, tenha feito uma tatuagem ou colocado um piercing. O dador, esclarece aquela especialista, pode estar infetado, mas ainda sem sinais da doença. Encontra-se no chamado “período janela”, o tempo que o organismo leva, a partir da infeção, para produzir anticorpos que possam ser detetados por exames ao sangue.
A “máxima segurança possível para a pessoa que está dependente da transfusão”, como diz Gracinda de Sousa, implica aquela quarentena preventiva, ou “suspensão da dádiva”, de quatro meses. É o período mínimo estabelecido pela correspondente diretiva comunitária, a qual estipula seis meses como baliza máxima para a “suspensão da dádiva”.
Esses seis meses são o período adotado por Espanha, onde Cristiano Ronaldo passa a maior parte do seu tempo, ao serviço do Real Madrid. Seja como for, em Portugal ou no país vizinho, o craque prefere abster-se de tatuagens ou piercings para poder dar sangue duas vezes por ano.
Ronaldo é um verdadeiro ativista da dádiva de sangue. “Podemos fazer aqui a diferença”, já disse publicamente. “Cada dádiva pode beneficiar até três pessoas em situação de emergência e ajudar nos tratamentos médicos de longo prazo.” O goleador já partilhou no Twitter uma foto do momento em que fazia mais uma doação de sangue e aceitou ser o primeiro embaixador mundial da campanha “BeThe1Donor”, destinada a sensibilizar jovens adultos para a dádiva. E não desiste de tentar convencer os seus colegas mais renitentes do Real Madrid a tornarem-se dadores regulares.
Em 2011, já Cristiano Ronaldo tinha de imediato avançado, enquanto dador de medula óssea, quando soube que o filho do futebolista Carlos Martins, seu ex-colega no Sporting e na seleção, sofria de leucemia e precisava de um transplante.
Fica uma dúvida: quem vê a sua doação suspensa, por ter feito uma tatuagem ou colocado um piercingno período crítico dos quatro meses, regressa após a quarentena preventiva para concretizar a dádiva? “Não possuímos dados para responder”, diz Gracinda de Sousa, a dirigente do IPST. “Mas quem tem mesmo muita vontade de doar sangue, entende e volta.” Seria, por certo, o caso de Ronaldo.