Com a morte, no fim de semana, aos 94 anos, da economista Maria da Conceição Tavares, o mundo intelectual brasileiro sofre uma grande perda.
Referência do pensamento desenvolvimentista no Brasil, a também professora da Unicamp e da UFRJ formou uma geração de economistas no país que têm decidido o destino econômico do Brasil nas últimas décadas. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon e o bisneto Théo.
Portuguesa de nascimento e brasileira de coração, Maria da Conceição era conhecida por ser ‘sem papas na língua’. Nascida em 24 de abril de 1930, em plena Grande Depressão, expressou temor, em 2009, quando o Brasil e o mundo viviam a recessão: “Nasci numa depressão e vou morrer noutra”, falou, para ser desmentida pela realidade.
Em abril de 2018, estava no auditório Pedro Calmon, no campus da UFRJ, na Urca, para receber homenagem pelos seus 88 anos.
Maria da Conceição Tavares…2
“É difícil não ficar pessimista hoje no Brasil. Tem alguém otimista que você conheça? Nem eu. Essa geração de jovens que faça paralisações, mova-se. Tirando os jovens, estamos mal. Eu não gostaria nada de estar velha e pessimista, nada. É péssimo, queria uma velhice feliz, do jeito que está não estou tendo. O que me dá um certo alívio é que tem uma geração de jovens para entrar. O que está aí é um lixo”.
Maria da Conceição chegou ao Brasil em 1954, três anos depois, tornou-se cidadã brasileira. Intensa, neutralidade nunca fez parte do seu vocabulário. Combateu ferozmente a política econômica do regime militar e os planos liberais dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Autora de mais de 10 livros, ganhou o Prêmio Jabuti de Economia em 1998.
Prisão e exílio no Chile
Durante o período da ditadura militar. Maria da Conceição Tavares se exilou no Chile, trabalhando na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), sendo a principal defensora e estudiosa do modelo nacional desenvolvimentista, com substituição de importações.
No período militar, chegou a ser presa sem saber muito bem o motivo. Era 1974 quando ela passou 48 horas nos porões do DOI-Codi, no Rio. Os enviados do então presidente Ernesto Geisel demoraram a encontrá-la. Foi vítima de uma briga de poder no regime entre Geisel e os aparelhos de repressão.
O amigo Mário Henrique Simonsen foi quem a tirou da cadeia: “Foi desagradável, celas muito nojentas, geladas, pintadas de branco, um frio desgraçado. Não fui torturada nem nada, mas fui ameaçada. Pelo menos não sumiram comigo.” contava.
A economista e o Plano Cruzado
Maria da Conceição teve grande influência sobre a elaboração do Plano Cruzado, no governo de José Sarney, e chegou a se emocionar durante entrevista em rede nacional de TV ao dizer que o plano foi o primeiro programa anti-inflacionário a não prejudicar o trabalhador.
Chegou a chorar em frente às câmeras de TV na defesa do Plano Cruzado, em um dos momentos mais marcantes daquela época de euforia que o congelamento dos preços trouxe ao povo brasileiro.
Sempre buscou se posicionar, distanciando-se da neutralidade. Foi uma das principais conselheiras econômicas do PMDB no período pré-redemocratização, sob a liderança de Ulysses Guimarães. Após a morte deste, filiou-se ao PT, partido pelo qual se elegeu deputada federal (1995-1999).