
Estamos iniciando o segundo semestre do ano letivo de 2019 no Brasil com uma avalanche de dúvidas provocadas pelas mudanças da nova gestão do país sob a égide do senhor Jair Bolsonaro. Infelizmente, essa é a verdade. A comunidade acadêmica de nosso país e as instituições que compõem a inteligência de nossa nação está sob ameaça de desmonte, anunciando uma era de trevas e submissão à ignorância, onde a excelência está vendo-se obrigada a deixar de ser caminho para o luminismo para se procurar uma metodologia de resistência aos conflitos emanando pela intolerância travestida de ideologia de gênero.
Essa receita de viés extremista, anunciado pelas práticas das correntes de extrema direita que acaba de assumir os destinos do país, está a toda hora testando a inteligência do povo que se preocupou em construir pilares para conquistar autonomia e independência nas suas prática científicas. Enganou-se que esperou que esta receita de democracia fosse poupar o conhecimento virtuoso, pois se esperava que o campo do conhecimento acadêmico fosse poupado de perseguições e achismo ideológico, mas, infelizmente, essa metodologia está cada vez mais evidente, e, põe em risco a própria soberania nacional.
As universidades e os demais equipamentos responsáveis pela educação, pela pesquisa e pela extensão, que formula o tripé norteador da prática das instituições superiores do nosso país, vê-se sob fogo cruzado a partir de uma doutrina reacionária que só olha pro seu próprio umbigo, ignorando o conhecimento e as bandeiras construídas ao longo do tempo para dar um o mínimo de soberania à inteligência brasileira. Com essa visão restritiva e apequenadora da nossa inteligência, é constatado quase que diuturnamente agressões a ícones da nossa inteligência nacional, mundialmente reconhecidas, como por exemplo, Paulo Freire e Ariano Suassuna, que são covardemente desqualificados, como meros esquerdistas, que não contribuíram nada para o debate e a transformação social de nossa terra.
Vemos também serem suprimidas as práticas democráticas construídas pelo conjunto dos que atuam no meio acadêmico, como o direito de se escolher os próprios dirigentes das instituições, não sendo respeitadas as escolhas dos processos eletivos recém desenvolvidos em várias Instituições de ensino Superior, como se nas nossas Instituições estivessem sido impostas práticas fascistas que impõem a escolha de seus dirigentes. Na verdade, nossas práticas foram ao longo dos anos sendo construídas a partir de regulações debatidas e aprovadas nos diversos fóruns decisórios de cada IES.
Infelizmente, nosso povo elegeu um presidente que não participou de debates e nem impôs seu plano de governo (pois não tinha), mas que foi favorecido por acontecimentos extraordinários, como uma facada (ainda não bem esclarecida) e por forças ocultas dos seguimentos mais à direita do país, em nome de se livrar a nação de uma corrupção crônica. Todavia, essa prática de mudança também estava contaminada com o mesmo modus operandi de ilicitudes, as quais convenceram a maioria daqueles que foram votar e conseguiram, assim, saírem vencedores, mas isso não justifica o desmonte dos aparelhos que gerênciam a educação, a pesquisa e a extensão de nossa academia.
Professores, funcionários e estudantes estão perplexos com o que poderá ainda vir, pois em nome de combater viés esquerdista, o gestor principal do país, não dar trégua ao bom senso, e, diariamente, estamos sendo vítimas de impropérios com ações e declarações de cunho pessoal, sem que haja um mínimo de respeito ao estado de direito. Fala-se absurdo e acusa-se qualquer um que não concorde com o seu modo de ver e perceber o seu mundo de forma fascistoide, onde só o direcionamento ideológico da obscuridade fosse digno de valia, não se dando a possibilidade de contrapor práticas e orientações obscurantistas. Estamos entrando em um buraco negro, sem possibilidade de ver claridade ao fim do mesmo.
Diante desse contexto, resta-nos torcer para que as inteligências de nossa academia possa nos apresentar caminhos férteis e luminosos para que possamos aspirar dias melhores e mais fecundos. O povo tem o direito de se equivocar momentaneamente, mas esse mesmo povo tem o direito de rever seus posicionamentos e banir a obscuridade de seu comando. Ainda há tempo e podemos remediar esse quadro de infortúnio. Só torcemos para que esse iluminismo não demore a chegar, pois toda tortura tem limites.
Euclides Moreira Neto – Jornalista, Professor Mestre em Comunicação Social e Investigador Científico.
São Luís, 22.08.2019