Gostaria de refletir sobre o grave momento por qual passa os praticantes do campo cultural de nossa terra, pois a situação que o povo brasileiro enfrenta neste momento com a pandemia Corona vírus 19 é totalmente atípica. Todos os segmentos da vida em sociedade foram impactados e isso tem provocado uma mudança de comportamento extremo no relacionamento comunitário.
Diante do exposto, quero chamar atenção para as manifestações, grupos, produtores e empresas que atuam na Cadeia Produtiva da Cultura e do Turismo, pois ambas estão completamente imbricadas uma a outra. Sem dúvida, essa cadeia produtiva foi a primeira a ser desmobilizada e desautorizada a funcionar, e, com certeza, será a última a ser vista pelos nossos gestores, pois como é histórico: a área cultural é considerada como a cereja do bolo e pode ser dispensável sem grandes problemas. Não é assim que somos vistos?
Partindo da premissa de que essa é uma verdade incontestável, gostaria de saber aonde nossos dirigentes estão aplicando os recursos da pasta da Cultura e do Turismo, pois como já tivemos oportunidade de nos manifestar, os praticantes e coordenadores de grupos culturais – sejam grupos das matrizes tradicionais ou grupos independentes recém formados – agregam pessoas de carne e osso, memória e esquecimento, que respiram, sonham, planejam ações e precisam de alimento para viver e sobreviver.
Desse modo, sem mais delongas, seria muito oportuno por parte dos nossos gestores virem a público e dizerem o que estão planejando para apoiar essa clientela que integra esse escopo social, pois esses seres humanos são responsável por manter a nossa identidade cultural em estado de bem estar, iluminado por uma prática que move toda uma estrutura a qual também gera trabalho, emprego e renda, dando à nossa terra características únicas e genuínas que nos torna diferenciados de outros povos.
Ao ser distinguido como um povo festeiro, alegre, diversificado culturalmente, detentores de cenários naturais e históricos preciosos, agregamos um capital simbólico de prática existencial, comunitárias e bens materiais e imateriais invejáveis. Assim, ganhamos reconhecimento, poder simbólico e status em meio a conjuntura social, como afirmou Pierre Bourdieu, Eric Hobsbawn, Stuart Hall e tantos outros teóricos que estudaram as transformações sociais ao longo do tempo.
Nosso povo do campo cultural e do truísmo está com precisão, carecendo mais do que nunca de políticas públicas que lhes socorram, propiciando alimento material e imaterial para sobreviver a essa pandemia do mal, que está a consumir nossas esperanças no presente e no futuro. É hora dos nossos gestores dividir coletivamente os recursos previstos no minguado bolo desses campos de atuação para aqueles que mantem ainda viva nossas manifestações culturais para que sobreviva com dignidade esse momento de extrema gravidade.
Sabemos que circula no Congresso Nacional um Projeto Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc – PL 1075 – similar ao socorro que está sendo concedido aos trabalhadores informais, que prevê a adoção de uma ajuda emergencial para os praticantes dessa área, no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais), por um período de três meses, além de outras ações para os diversos segmentos envolvidos com o setor cultural, totalizando o valor de três bilhões de reais, que à primeira vista parece ser um alento, mas sinceramente, mesmo que essa proposta seja aprovada, eu, pessoalmente, duvido que ela seja sancionada pelo comandante do poder executivo, pois estamos com um cidadão longe de ser sensível para as causas culturais e para os movimentos artísticos de nosso país. Vou torcer para que eu esteja completamente errado. Vamos aguardar os acontecimentos.
Pelo sim ou pelo não, é necessário que o povo da Cadeia Produtiva da Cultura e do Turismo fique atento e comece a gritar para que nossos apelos cheguem aos ouvidos dos nossos gestores governamentais em todas as esferas de atuação: municipal, estadual e federal. Pense nisso. Continuemos atravessando a pandemia Covid 19.
São Luís, 3.06.2020
Euclides Moreira Neto
Professor Mestre em Comunicação Social e Investigador cultural