De acordo com as regras da Fifa, a assinatura do contrato só pode ser feita quando falta menos de seis meses para o fim do vínculo do atleta com o clube. No caso, ainda restavam pouco menos de três anos para o atacante se desvincular da equipe santista.
Segundo a reportagem, a negociação foi autorizada pelo presidente do Santos à época Luis Alvaro de oliveira, morto em 2016.
Áudios e transcrições dos depoimentos prestados por Rosell, em 2014, e por Bartomeu, em 2015, em uma investigação do fisco espanhol, revelam que o caso foi encerrado após o Barcelona pagar uma multa de 6 milhões de euros (aproximadamente R$ 20 milhões) às autoridades espanholas.
– Havia outros clubes com outras cifras. Então, quando voltamos a acertar por 40 milhões de euros […] o pai de Neymar me disse: “Isto é o sinal?”. E então eu lhe disse: “Muito bem, quanto quer de sinal?”. “Quero 10 [milhões de euros]”. “Pois te daremos o sinal de 10”. Sorte que ele me pediu, senão eu teria oferecido. Eu teria dito: “Veja, não quer nada adiantado?”
– E essa negociação, entende você, é um pagamento como sinal – comentou o juiz Ruz.
– Um sinal muito bem pago com empréstimo – respondeu Rosell.
– Quando alguém fala em um sinal é uma coisa, quando se fala de empréstimo é outra. Por isso, digo: quero saber se o que se conversou entre vocês foi de adiantar um sinal e o clube (Barcelona) decidiu que se formalizaria como um empréstimo. É assim, verdade?
Não é possível ouvir a resposta de Rosell para esta pergunta.
Em 2015, o atual presidente, Bartomeu, também foi intimado para uma audiência, onde declarou:
– Havia três jogadores neste país [Brasil] muito interessantes para contratar. Dos três, dois foram para outros clubes europeus, sobrou Neymar. Então iniciamos uma conversa com o pai de Neymar para que quando acabasse o contrato com o Santos, viesse jogar no Barcelona. É um contrato um pouco para amarrar o jogador. No momento que ficasse livre do Santos, viesse jogar no Barcelona. No fundo, é um contrato para amarrar. É um contrato como se fosse… não um pagamento antecipado, mas quase-quase um pagamento antecipado para assegurar que ele não fosse para outro clube.
Javier Soriano/AFP | ||
Josep Maria Bartomeu (dir), presidente do Barça, e seu antecessor, Sandro Rosell |
O POLÊMICO ROSELL
Rosell, um dos réus na ação, tem uma polêmica história envolvendo o futebol brasileiro – e que antecede sua atuação como presidente do Barcelona na época da contratação de Neymar.
Ex-executivo da empresa de material esportivo Nike no Brasil, ele tinha grande trânsito junto à CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Foi acusado de superfaturar a organização de um amistoso entre Brasil e Portugal em 2008, em um contrato com o governo do Distrito Federal. No caso Neymar, o Ministério Público recomendou que Rosell seja condenado a cinco anos de prisão.