Brasileiro envelhece e põe em xeque modelo de Previdência
Ed Ferreira/Folhapress | ||
Nelson Barbosa (Planejamento), Carlos Gabas (Previdência) e Joaquim Levy (Fazenda), em pronunciamento |
Nova regra do INSS alivia contas de Dilma
JULIANNA SOFIAVALDO CRUZDE BRASÍLIA
Em um momento de derrotas do governo no Congresso, que cria bombas fiscais como o aumento de R$ 25,7 bilhões para servidores do Judiciário nos próximos quatro anos, a nova fórmula para cálculo das aposentadorias pode ser vista como um refresco para as contas públicas.
Mas no curto prazo.
A regra 85/95 garantirá uma economia de R$ 12,2 bilhões até o final do segundo mandato de Dilma, segundo dados obtidos pela Folha.
Pela proposta, quando a soma entre o tempo de contribuição e a idade for 85, para mulheres, e 95, para homens, é possível pedir aposentadoria pelo valor mais alto (média dos 80% maiores salários de contribuição desde julho/94).
A MP enviada pelo governo alterou a fórmula fixa aprovada pelo Congresso e estabeleceu que a soma subirá progressivamente até atingir 90/100.
O sucessor da petista será ainda mais beneficiado, com reduções de gastos de R$ 26 bilhões. Projeções do Ministério da Previdência mostram que a economia se mantém nos dois quadriênios seguintes (veja gráfico).
O alarme começa a soar depois de 2030.
Entre 2031 e 2034, a nova fórmula passa a gerar gastos extras de R$ 10,2 bilhões. Isso já fez o governo avisar que a proposta, enviada ao Congresso como medida provisória, terá de ser revisada.
A elevação de gastos nos anos seguintes torna-se, segundo o ministro Carlos Gabas (Previdência), “insustentável” e vira uma “ameaça” à sustentabilidade da Previdência.
CORRIDA
A mudança da forma de cálculo, segundo Gabas, levou a uma corrida aos postos da Previdência: cresceram 100% as consultas sobre se vale a pena se aposentar agora. Em sua opinião, a tendência é que as consultas não se transformem em pedidos de aposentadorias.
Se depender das centrais sindicais, porém, o governo terá novas batalhas no Congresso. CUT e Força Sindical vão tentar derrubar a progressividade e voltar ao modelo fixo vetado por Dilma.
“A progressividade pode se transformar em algo pior do que o fator previdenciário (mecanismo atual que procura retardar o pedido de aposentadoria)”, afirma o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Carmen Foro, presidente interina da CUT, concorda. Torres defende uma revisão da regra 85/95 dentro de cinco a seis anos.
Gabas afirma que o governo vai tentar convencer o Congresso a aprovar a MP da forma como está.
“Além de possíveis mudanças no Congresso, a nova regra pode ser alvo de judicialização. Quem já está aposentado pode reivindicar a aplicação da regra, mais favorável que a atual. É difícil ganhar, mas isso é igual um jogo entre o Barcelona e um time pequeno. A gente sabe quem vai ganhar, mas precisa entrar em campo e jogar”, avalia o especialista em previdência Marcelo Caetano.
Brasil se isola em relação a idade mínima
DE BRASÍLIAO Brasil está acompanhado apenas do Chile, em uma comparação com os principais países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), na falta de uma idade mínima como regra de acesso à aposentadoria por tempo de contribuição no INSS.
O Chile, no entanto, tem um sistema diferente, em que cada trabalhador contribui para sua própria aposentadoria.
No Brasil, a idade média de aposentadoria hoje é 54,47 anos. Houve uma tentativa de criar idade mínima no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), sem sucesso.
Para o ministro Carlos Gabas (Previdência), o assunto deverá ser discutido no fórum sobre a Previdência (leia mais na pág. A22), mas a adoção da regra 85/95 incorpora uma idade mínima implícita, que seria de 60 e 65 anos para mulheres e homens, respectivamente.
Para Marcelo Caetano, especialista em previdência, porém, a conta é questionável: quem começa a trabalhar aos 18 anos poderia se aposentar com 54 (mulheres) ou 59 anos.
“A idade de 60/65 anos já é muita baixa. Veja o caso da Grécia. Mesmo com toda a resistência a medidas de austeridade fiscal, eles admitem elevar a idade mínima das aposentadorias dos atuais 62 anos para 67 anos.”