Com a renúncia de Joseph Blatter, o jogo político na Fifa está aberto e imprevisível, inclusive dentro de campo, com a possível rediscussão das Copas de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar), cujas escolhas estão sob investigação na Suíça.
Pressionado pelas denúncias de compra de votos no processo dessas candidaturas, Blatter resistia à possibilidade de mudar as sedes.
Agora, o futuro das duas Copas está nas mãos de quem assumir o comando em Zurique. A Federação Inglesa, por exemplo, já disse que quer boicotar o Mundial de 2022.
Os cartolas europeus se reúnem sexta-feira (5) em Berlim, um dia antes dafinal da Liga dos Campeões entre Juventus e Barcelona.
Será o primeiro encontro da Uefa, que dirige o futebol no continente, após a renúncia de Blatter –gesto, aliás, que a entidade exigia.
Os europeus terão a chance de recuperar o controle político do futebol mundial, perdido em 1974, quando o brasileiro João Havelange tirou o inglês Stanley Rous do cargo que ocupava desde 1961.
Desde então, a Europa perdeu força na Fifa diante do fortalecimento de Havelange nos demais continentes, sobretudo africano e asiático.
O cenário foi mantido por Blatter, que rezou pela cartilha de Havelange de distribuir dinheiro para a grande parte das 209 federações, precárias financeira e futebolisticamente.
CANDIDATURAS
O presidente da Uefa, Michel Platini, surge como uma aposta natural para a eleição que deve ocorrer na Fifa até março de 2016. Em comunicado no site da Uefa, ele apenas saudou a renúncia. “Foi uma decisão difícil e corajosa, e é a decisão correta.
Dois fatores contam contra o francês, que se recusou a enfrentar Blatter na eleição. Ele não terá, por exemplo, o apoio das influentes federações espanhola e francesa, alinhadas à gestão de Blatter.
Além disso, seu nome foi alvo das denúncias de compra de votos na escolha da sede da Copa no Qatar, o que teria motivado sua desistência.
Na Fifa, o voto de uma federação sem expressão vale o mesmo do de qualquer campeã do mundo. E aí mora o perigo para a Uefa, que tem ao seu lado o apoio apenas dos cartolas dos EUA.
O dirigente suíço sai desgastado, mas com capital político que não se despreza, ainda mais na África e Ásia, que somam 100 dos 209 votos do colégio eleitoral.
Se todos se unirem contra a Europa na eleição, o jogo está liquidado novamente.
O estrago da queda de Blatter, porém, foi tão grande que não sobra nenhum nome viável e óbvio entre seus aliados.
O secretário-geral, Jerôme Valcke, preparado para sucedê-lo, agora deve se afastar após ser citado no escândalo da propina de US$ 10 milhões.
Não há também um nome na tradicional cartolagem da América do Sul ou da Concacaf (Américas Central e do Norte) capaz de limpar a imagem da Fifa e agregar apoio.
O presidente da Concacaf, Jeffrey Webb, era apontado como um potencial sucessor, mas foi preso no dia 27.
O ex-jogador português Luis Figo, 42, que retirou sua candidatura à presidência da Fifa antes da eleição, pediu consenso em todo o mundo para se iniciar nova etapa.
“Um dia bom para a Fifa e para o futebol. A mudança enfim chegou”, disse, sem afirmar se será candidato.
Na segunda-feira (1º), porém, ele deu a entender que podia pensar em uma nova candidatura. “Estou disponível para contribuir para um futebol mais transparente e democrático, mas depende das oportunidades, do momento e dos apoios”, disse.
O príncipe jordaniano Ali bin Al-Hussein, único que enfrentou Blatter na eleição (perdeu por 133 a 73), vai concorrer novamente. “O príncipe Ali está pronto”, disse à agência AFP Salah Sabra, vice-presidente da Federação Jordaniana de Futebol, entidade presidida por Ali.
Pelo Twitter, o holandês Michael van Praag, presidente da Federação Holandesa de Futebol –que chegou a se candidatar, mas retirou seu nome antes da disputa–, não disse se voltaria a apresentar seu nome. “Eu queria mudar a Fifa e isso [renúncia] pode ser um grande passo na direção correta”, disse.