A crise econômica que alvejou o Brasil, a partir do segundo trimestre de 2014, é de uma magnitude quase que sem precedentes em nossa história. Resultado de erros obtusos cometidos na condução da política econômica, exoticamente capitaneada pela presidente afastada, a economista (que sumo paradoxo) Dilma Rousseff, que acreditou em dogmas primariamente equivocados. Entretanto, o desastre foi ampliado pelos efeitos da convulsão política, na esteira da “Operação Lava Jato”, e por resultados advindos de ações anticíclicas, diga-se demasiadas, adotadas no primeiro governo Dilma, para enfrentar os resquícios da debacle do sistema financeiro mundial decorrente da crise econômica de 2008.
A economia nacional cresceu apenas 0,1% em 2014, caiu 3,8% em 2015 e, pelas projeções mais recentes, deve sofrer novo tombo em 2016, algo em torno de 3,5%. Resultados tão pífios como esses só foram vistos no Brasil durante o biênio 1930/1931 – portanto há longínquos 85 anos. Nesse período, o nosso Produto Interno Bruto (PIB) encolheu por dois anos consecutivos: 2,1% e 3,3%, respectivamente. Com a ressalva, porém, de que esses números foram fortemente influenciados pela Grande Depressão de 1929.
Fruto de políticas monetária e fiscal conflitantes, a inflação saiu totalmente do prumo, indo de 6,41% em 2014, para 10,67% em 2015 – mais de 4 pontos acima do teto da meta e a maior em 15 anos – e deve ficar em aproximadamente 7,3% em 2016. Para conter a espiral inflacionária, o Banco Central – que durante boa parte do governo Dilma atuou submisso ao arbítrio da presidente – nos últimos meses, contra a vontade dessa, se viu obrigado a administrar uma dose mastodôntica de juros. Eles foram de 7,25%, em 2013, para os atuais 14,25% – a maior taxa real de juros ao ano do mundo (8%), ranking que tem na sequência Rússia (2,98%) e Indonésia (2,38%). Com isso, a conta de juros paga pelo governo brasileiro explodiu. Somente em 2015, o Brasil gastou fabulosos 367,67 bilhões de reais com juros da dívida. Esse valor é o maior de todos os tempos, e corresponde, por exemplo, a 13 vezes o valor aplicado no Bolsa Família, nesse ano, e a mais de 26 vezes o orçamento do Estado do Maranhão do ano passado. O nível de emprego também foi fortemente afetado. A taxa de desemprego, que em 2014 era de 7,1%, alcançou 11,2% neste ano. Agora já são mais de 11,4 milhões de brasileiros desocupados.
Porém, nos últimos dias alguns indicadores fazem crer que a crise, se não está chegando ao fim, pode já ter atingido o seu ápice, e o Brasil pode ficar “menos ruim”. Em 2016, o real se valorizou 20% frente ao dólar, as ações na Bovespa subiram mais de 28% e o CDS (“Credit Default Swap”), índice que mede o risco de o país aplicar calote, caiu 42%. Instituições mundiais prometem aplicar cerca de 80 trilhões de dólares no país. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), apesar de estar em patamares baixos, em 47,3 pontos (50 pontos é o limite entre uma maior ou menor confiança) em julho, cresceu pelo terceiro mês consecutivo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), semana passada, em seu relatório “Panorama Econômico Mundial” fez previsões menos sombrias para a economia brasileira. O PIB do país, em 2016, deve cair 3,3%, ante a contração de 3,8% prevista em abril pelo fundo. Para 2017, o FMI, que vaticinara inicialmente uma variação nula do PIB, já projeta um crescimento de 0,5%. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), organização composta pelos 500 maiores bancos do planeta, também na última semana, soltou nota em que indica que o PIB brasileiro deve crescer 1,5% em 2017 e 3% em 2018. Essas duas agências globais acreditam que os principais desafios da economia brasileira são a crise fiscal (manifestada em recorrentes déficits públicos, previsto para 170,5 bilhões este ano) e as incertezas políticas (quem comandará o país até 2018 e qual política econômica será implementada?).
A despeito das avaliações jurídicas sobre a legalidade ou não das razões (particularmente as tenho como extremamente frágeis e sofisticadas para o padrão político brasileiro) que levaram ao afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff e à ascensão do presidente interino Michel Temer, é certo que o peemedebista conseguiu montar uma equipe econômica estelar, liderada por Henrique Meirelles (ministro da Fazenda) e Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central). Os dois, cada um em sua área, prometem, harmoniosamente, dar mais previsibilidade e sanear a economia brasileira. Com Meirelles atacando de forma inclemente o déficit estrutural das contas públicas, a partir de medidas como a PEC de limitação dos gastos públicos e a Reforma da Previdência, e Goldfajn comprometendo-se em levar a inflação para o centro da meta (4,5%) já em 2017, mediante uma política monetária austera.
Se tudo isso vai dar certo e a economia irá, de fato, melhorar, só a votação final do impeachment (essa menos imprevisível), o desfecho da “Operação Lava Jato” (essa altamente imprevisível) e a obstinação por manter uma política econômica equilibrada e sem estripulias vão dizer. Façam as suas apostas…
Eden do Carmo Soares Junior (eden-jr@hotmail.com)
Economista/Mestre em Economia/Pós-Graduado em Administração Pública – Auditor Federal de Finanças e Controle