12/02/2025

ENTENDA O PORQUE DEVEMOS ACABAR COMO ABRIGO DO LARGO DO CARMO (*)

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As forças quem constituem o poder público local nas  esferas Federal, Estadual e Municipal  estão desenvolvendo uma série de ações na capital maranhense no sentido de recuperar e tornar possível a revitalização do nosso centro histórico, especialmente as área que envolve o tombamento federal e estadual da cidade de São Luís, entre os quais estão a Praça João Lisboa e o Largo do Carmo, no qual está a construção do conhecido abrigo.

Esse abrigo foi erigido em meados do século passado para atender a necessidade de ter um espaço para receber a população da cidade de São Luís que dependia dos bondes para sua locomoção, que abrangia o centro histórico, os bairro mais próximos do centro urbano e regiões mais afastadas como os bairros do Monte Castelo, João Paulo e Anil, que naquela época para chegar a estas localidades o povo percorria uma via conhecida como “Caminho Real” ou “Caminho Grande”, pois o centro produtivo da cidade estendia-se até esses limites geográficos.

Na verdade, no centro da cidade foram construídos dois abrigos, um que fica ao lado do início da rua Grande (ou Oswaldo Cruz) e o outro que de ficava em frente a antiga Camara de Vereadores de São Luís (o Casarão localizado ao lado dos correios) e está no início da Rua da Paz, que tempos antes havia sofrido modificações para alargamento daquela rua. Esse alargamento chegou a derrubar parte do Convento das Mercês, que chegou a perder três lances de janelas e a sua escadaria que se estendia até o meio do referido largo, que foi substituída por duas escadarias laterais. A cidade também perdeu um pelourinho que ficava em frente a igreja Carmo e que era o símbolo da escravidão colonizadora da região.

Pois bem, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em conjunto com os poderes públicos estadual e municipal acaba de anunciar a revitalização da Praça João Lisboa e Largo do Carmo, devendo ser mantido o abrigo que ainda existe na parte contígua à entrada da rua Grande. Primeiro a revitalização desse espaço público é uma demanda de  vários gestores municipais, lembro-me que o ex-prefeito João Castelo, tentou de tudo para essa obra ser executada, mas as picuinhas políticas de seu tempo barraram sua vontade e a cidade ficou a esperar.

Espero(amos) que a revitalização agora anunciada reveja a manutenção desse abrigo, que ao meu ver, sua demolição é uma ação de bom senso, constituindo-se extremamente pertinente e necessária, pois aquele local não abriga mais nada de bom para a cidade, pelo contrário tornou-se um espaço sem sentido e totalmente insalubre. Jaz o tempo em que a população local recorria aquele espaço para pegar transporte público ou curtir uma noitada ao som de “boa música”.

Atualmente não percebemos função social relevante para manutenção daquele “abrigo”. Os boxes são pouco procurados pela população que há muito deixou o centro da cidade e ali tornou-se local para práticas ilícitas, que prefiro não nomeá-las para não causar desagravo à parcela populacional praticante. Por isso, torna-se premente que os poderes públicos envolvidos com essa reforma revejam essa revitalização e transfiram para local mais apropriados os atuais ocupantes do referido abrigo.

Só para exemplificar, é transcrita abaixo um trecho da matéria do jornalista Douglas Cunha (12 .02.2017  ) quando diz:  

 “O taxista João Batista Correia trabalha no Posto Neon, desde 1972. Ele lembra que quando ali iniciou no trabalho, com “carro de praça”, os ônibus trafegavam pela Rua da Paz e passavam pela Praça João Lisboa em direção ao Mercado Central e dali para os bairros de origem, e responsabiliza pela atual  falta de movimento na praça, a retirada destes ônibus de circular por ali. Ele avalia que a Praça João Lisboa era considerada o “coração da cidade”, com grande movimentação tanto durante o dia, quanto à noite, com o abrigo sendo o principal ponto de táxis e lanches de estudantes e trabalhadores durante o dia, e à noite dos boêmios que, após uma noitada na Zona do Baixo Meretrício, merendavam nas lanchonetes do abrigo e depois se recolhiam às suas casas indo de táxi, já que durante a madrugada não havia transporte público. (O Imparcial, 12.02.2017 – consultado em 8.7.2019).

A afetividade que poderia ser proporcionada por aquela área geográfica está relacionada à devolução do espaço para ser utilizado como via passeio ou jardins pela população em geral que ainda se dirige a rua Grande (a qual está também sendo revitalizada). Temos certeza que aos poucos moradores do centro histórico e aos visitantes de nossa cidade iria apreciar bem melhor o conjunto arquitetônico sem aquele ruido visual no meio do passeio. Portanto, para nossa cidade que carece de praças e espaços bem mais estruturadas, devolva-se o espaço que o “abrigo” abiscoitou quando ainda existia bondes na nossa cidade.

Vale lembrar que Convento e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo localizam-se na naquela área geográfica (outrora considerado o coração da cidade), em São Luís e pertencem à Ordem dos Capuchinhos. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, integrada ao convento é um dos templos católicos mais importantes e tradicionais da cidade. O conjunto localiza-se numa área tombada pelo IPHAN desde 1955.

Consultando o “Guia de Turismo e Viagem de São Luís do Maranhão” verificamos que construção da Convento e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo , em São Luís, data do ano de 1627, quando o governador Francisco Coelho de Carvalho mandou erguer em terreno abandonado na Rua do Egito – onde havia uma capela com invocação a Santa Bárbara, conhecida por muito tempo como “Carmo Velho” –, as novas instalações do convento onde os carmelitas que aqui viviam instituíram um centro de estudos religiosos. Na época, a cidade ainda era muito pequena.

A história da Igreja de Nossa Senhora do Carmo está ligada a lutas da cidade. Entre elas, a batalha que resultou na expulsão dos holandeses de São Luís (1641). O convento serviu de abrigo para mulheres e crianças, além de fortificação para guardar artilharia. Nessa época, a edificação foi bastante danificada, permanecendo assim durante muito tempo, já que a cidade não tinha condições de reformá-la, o que aconteceu no século XVIII, com as mudanças socioeconômicas de São Luís, com a implantação da Companhia de Comércio e com a introdução do trabalho escravo negro.

Da Igreja de Nossa Senhora do Carmo nasceram ruas importantes da província que se tornava uma grande cidade. Em 1808, as duas torres da igreja foram erguidas. Nas décadas seguintes, serviu de sede para artilharia imperial e mais tarde para o Corpo Policial de Segurança Pública. No andar superior, funcionou também a Biblioteca Pública (1831) e após remoção do Corpo Policial, abrigou o Liceu Maranhense, dirigido por Sotero dos Reis. Uma placa com a inscrição Liceu – 1838 ainda existe no local. Já em 1866 teve a fachada revestida por belíssimos azulejos portugueses, preservados até hoje.

Esse “Guia de Turismo e Viagem de São Luís do Maranhão” revela ainda que outros fatos curiosos podem ser citados quando se investiga de forma aprofundada a existência do largo e da Igreja do Carmo, como são as galerias subterrâneas que ligam a Igreja à Fonte do Ribeirão, preservadas até hoje, mas fechadas à visitação pública. Outra situação que envolve a Igreja e seus moradores está relacionada à construção do Teatro Arthur Azevedo, pois os frades da Ordem dos Carmelitas impediram que um templo mundano fosse erguido ao lado da Igreja. Para eles seria uma profanação. Por isso, o teatro foi construído com a frente voltada para Rua do Sol.

No Largo do Carmo também funcionou a primeira feira da cidade e ali também existiu o pelourinho, “uma coluna de mármore, alta de uns doze metros, trabalhada em feixes espiralados e partidos da base quadrilonga até ao capitel. Sobre este encontrava-se o aparelho punitivo” onde os negros eram punidos e expostos aos que passavam, como presenciado por Odorico Mendes. Uma réplica do pelourinho pode ser vista no museu Cafua das Mercês. Depois de um período de decadência das irmandades instaladas no convento, chegam a São Luís os seus novos ocupantes para fundar a missão dos Capuchinhos Lombardos no Maranhão, em 1893.

Revela ainda a do Guia de Turismo e Viagem de São Luís do Maranhão que a Igreja de Nossa Senhora do Carmo estava em péssimas condições estruturais e só foi aberta ao público em 1895. As obras de recuperação continuam ao longo da primeira metade do século. Em 1931 e 1932, deu um corte na sapatas e do calçadão que fazia limite com a Rua da Paz, visando urbanização da cidade e alargamento da rua, por onde passava a linha de bondes. Na ocasião foram suprimidas três janelas do convento para alargamento da Rua da Paz

Em meados da década de 1940, desabou parte da capela que pertencia á Irmandade de Bom Jesus dos Passos. Durante a reforma do largo e da Praça João Lisboa, a escadaria que ficava em frente à igreja foi removida e construída duas nas laterais da igreja que receberam acabamento em cantaria de lioz. As modificações fazem do logradouro muito diferente da arquitetura original, mas apesar disso ainda encanta quem chega à cidade.

Professor-Mestre em Comunicação Social pela UFMA/UFF/UNIVIMA e investigador Científico do Campo Cultural.

São Luís, 9.07..2019

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