Dois ex-alunos de um colégio de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, mataram nesta quarta-feira oito pessoas e feriram outras onze, antes de cometerem suicídio, um uma tragédia que choca o Brasil.
As vítimas fatais são cinco estudantes do ensino médio, todos homens – com entre 15 e 17 anos – uma conselheira pedagógica, uma zeladora do colégio e o proprietário de um lava jato.
O massacre ocorreu no Colégio Raul Brasil de Suzano na manhã desta quarta-feira, na hora do recreio.
Segundo o secretário de Seguridad Pública do estado de São Paulo, João Pires de Campos, os atiradores foram identificados como dois ex-alunos do Raul Brasil, de 17 e 25 anos, que agiram por motivação ainda desconhecida.
No massacre foram utilizados um revólver calibre 38 e uma “uma arma medieval semelhante a um arco e flexa” (besta), informou o coronel Marcelo Salles, da Polícia Militar (PM).
Todas as vítimas fatais receberam disparos da arma de fogo, informou um oficial da PM.
O massacre desatou um debate nas redes sociais sobre a influência das imagens de tiroteios em escolas e universidades nos Estados Unidos ou da campanha a favor do porte de armas do presidente Jair Bolsonaro.
– Hora do recreio –
Familiares angustiados, policiais e membros do corpo de bombeiros chegaram rapidamente ao local.
“Soube quando minha filha me telefonou e me disse: ‘Mamãe, venha rápido, há tiros, feridos e mortos”, contou Rosa, mãe de uma aluna.
Após atirar nas pessoas que estavam no pátio, os dois jovens “se dirigiram ao centro de línguas”, onde vários estudantes estavam refugiados, “e se suicidaram no corredor”, revelou o coronel Salles.
“A gente ficou trancado. Tinha muitos alunos passando mal, inclusive eu. Ficava um tentando ajudar o outro e ficamos lá até que abriram a porta (…). Achamos até que eram os bandidos, a gente achou que iam vir para pegar a gente mas eram os policiais, e eles falaram ‘sai correndo e a gente saiu correndo’”, contou a estudante Milene Querren Cardoso.
Imagens das câmaras de segurança de prédios vizinhos mostraram alunos saltando os muros da escola e correndo assustados.
“Foi a cena mais triste que vi em minha vida”, declarou o governador de São Paulo, João Doria, ao visitar o colégio após o massacre.
O ataque desta quarta-feira faz recordar o massacre ocorrido em abril de 2011, quando um ex-aluno matou 12 estudantes e feriu outros 20 antes de se suicidar em uma escola de Realengo, no Rio de Janeiro.
– Influência cultural ou cultura do ódio –
O massacre desta quarta-feira reviveu a polêmica sobre a flexibilização da posse de armas promovida por Bolsonaro.
Em mensagem no Twitter, o presidente prestou suas “condolências aos familiares das vítimas do desumano atendado ocorrido hoje na Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Uma monstruosidade e covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos”.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, declarou: “É muito triste. A gente tem que chegar à conclusão por que isso está acontecendo. Essas coisas não ocorriam no Brasil, ocorriam em outros países, mas não vejo essa questão (da posse de armas). Vai dizer que a arma dos caras lá eram legais?! Isso não tem nada a ver, sei que isso vai ser colocado e discutido, mas é minha opinião e não me omito jamais”.
“Isto não faz parte da nossa cultura. Não pdoemos aceitar que o ódio entre em nossa sociedade”, disse o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
Já a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, afirmou que “tragédias como esta resultam do incentivo à violência e a liberação do uso de armas. O Brasil precisa de paz”.
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A polícia investiga se os dois jovens que abriram fogo contra a Escola Estadual Raul Brasil, nesta quarta-feira, 13, faziam parte de um grupo que joga em rede o game Call of Duty, de guerra, e neste fórum teriam planejado o crime. Os investigadores estão ouvindo os pais dos rapazes sobre essa questão, mas suspeitam que pode ter ligação com o massacre. A polícia ainda não sabe como ou onde as armas foram compradas. Os autores do ataque tinham um revólver .38, uma besta, uma machadinha e um arco e flecha.
Luís Henrique de Castro, de 25 anos (ele faria aniversário no sábado), e Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, eram vizinhos e ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil. Guilherme havia abandonado a escola no ano passado e, de vez em quando, fazia alguns trabalhos em lanchonetes no centro de Suzano. Mas passava a maior parte do tempo com o amigo. Segundo vizinhos, os dois às vezes ficavam o dia inteiro conversando, sentados na frente de casa. E passavam pelo menos três noites por semana em uma lan house perto de casa jogando games como Counter Strike e Mortal Combat, além do Call of Duty. Castro trabalharia de vez em quando com o pai, capinando o mato.
Na manhã desta quarta, chegou a acordar por volta das 5 horas e foi para a estação de trem com o pai. Chegando lá alegou que estava doente e o pai disse para ele voltar para casa, o que nunca aconteceu.
Os dois foram até uma loja de carros seminovos do tio de Guilherme Jorge Antônio Moraes, localizada a cerca de 450 metros. De acordo com testemunhas, por volta de 9h15, Guilherme entrou sozinho no local, onde também funciona um estacionamento e um lava-rápido e disparou três vezes. Ele acertou o celular que Jorge segurava na mão – e levantou na tentativa de se proteger -, a clavícula e as costas da vítima. Depois, saiu e embarcou no carro que o esperava na saída.
Amigos e funcionários relataram que o carro não foi roubado no local, ele seria de uma locadora, mas não ficou claro se foi roubado lá ou locado. Jorge era conhecido no bairro e tinha a loja há 27 anos e deixa três filhos.
O gerente de negócios Rodrigo Cardi, de 34 anos, trabalhou com Jorge nos últimos 15 anos e disse nunca ter visto Guilherme no local. “Parece que o Jorge tentou dar uns conselhos depois que o sobrinho foi mal na escola, mas ele não gostou. Mas no momento do ataque nada foi falado nem houve chance de defesa”, disse.
Um amigo de Jorge estava no local e testemunhou o ataque. Em estado de choque, foi socorrido e passa bem.
A polícia foi acionada para procurar um Ônyx branco, encontrado um tempo depois na frente da escola, já com a chamado do tiroteio em curso. Os policiais ainda viram os atiradores vivos, mas eles fugiram dentro da escola.
Um pouco antes do massacre, Guilherme postou em sua página no Facebook 30 fotos com máscara de caveira – semelhante à encontrado na escola – e arma. Nas imagens, ele faz gestos obscenos e mostra a arma. Em uma outra imagem, ele faz um sinal de arma com os dedos e aponta para a cabeça.