Por postado por José Kleber Neves Sobrinho
Há exatamente 100 anos, o Brasil despertava para uma nova mentalidade artístico-cultural.
A mentalidade artístico-cultural brasileira era extremamente elitista e conservadora, em que prevaleciam as fórmulas tradicionais, principalmente em se tratando de Literatura. Ainda cultuava-se a linguagem formalista, fulcrada na produção parnasiana. A linguagem castiça, ao estilo parnasiano, ainda imperava nas obras de autores como Olavo Bilac (1865-1918), Alberto de Oliveira (1857-1937), Vicente de Carvalho (1866-1924), Teófilo Dias (1854-1889) e outros.
Anteriormente à Semana de Arte moderna, ou seja em 1917, a artista plástica Anita Malfatti (1889-1964), recém-chegada da Alemanha, expôs os seus quadros futuristas, propondo uma nova visão de arte plástica, o que suscitou severas críticas do escritor Monteiro Lobato, através do artigo “Paranóia ou Mistificação?”, publicado no jornal O Estado de São Paulo.
Anita Malfatti, ao lado da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973), formou o “Grupo dos Cinco” com Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Mário de Andrade. O grupo era descrito por Tarsila como “Bando de doidos em disparada por toda parte no Cadillac verde de Oswald”. Ainda, segundo ela, o principal motivo da compra de um Cadillac por Oswald foi a presença de um cinzeiro dentro do carro, item raro em outros modelos.

Tarsila do Amaral não esteve presente na Semana de Arte Moderna de 1922. No entanto, sua filiação ao modernismo ocorreu logo em seguida.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), vários acontecimentos aceleraram, de forma significativa, a cultura, a política e do modo de viver da sociedade brasileira. O ano de 1922 foi importante em virtude de uma série de acontecimentos de grande influência histórica. O centenário da Independência do Brasil, o levante tenentista do Forte de Copacabana, a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a primeira transmissão radiofônica no país anunciaram que o século XX chegava para ficar. Mas, nenhum desses eventos se fixou em nosso imaginário sociocultural com o alcance e a profundidade da Semana de Arte Moderna de 11 a 18 de fevereiro, de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo.
A Semana de Arte Moderna foi um evento sem precedentes na cultura brasileira. Jovens estudantes, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, oriundos de famílias tradicionais e bem conceituadas, recém-chegados da Europa, munidos de uma nova mentalidade de produzir artes e influenciados pelas vanguardas europeias, principalmente na pintura e literatura, implantaram uma turbulência cultural que provocou feroz resistência da elite paulistana, tão moldada pelos padrões tradicionais.
A burguesia brasileira encontrava-se envolta nas tradições culturais francesas, na “Belle Époque”, em que todo produto francês era bom e refinado. Era preciso mudar essa tradição reacionária e obsoleta. Os principais dias de eventos da Semana de Arte Moderna foram 13, 15 e 17 de fevereiro. No dia 13, a abertura do evento foi feita pelo escritor maranhense Graça Aranha (1868 – 1931), com a palestra “A emoção estética da Arte Moderna”, seguido de apresentações musicais e exposições artísticas.
No segundo dia 15, houve uma apresentação musical, a palestra do escritor e artista plástico Menotti del Picchia e o recital do poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, que coube a Ronald de Carvalho, vez que o autor estava acometido de uma crise de tuberculose. Esse importante evento teve uma reação violenta da elite conservadora, com um tumulto sem controle, através de vaias, assobios, gritos e imitação de vozes de animais. Mas era justamente isso que os modernistas esperavam; eles queriam um acontecimento inédito, turbulento, sem o formalismo das conferências literárias “insossas” dos parnasianos.
No terceiro dia 17, de fevereiro, Vila Lobos (1887-1959), grande maestro, foi apresentar suas composições, subindo ao palco, calçando num pé um sapato e noutro um chinelo. O público vaiou, pois considerou a atitude futurista e desrespeitosa. Depois, foi esclarecido que Villa-Lobos entrou desta forma porque estava com um calo no pé.
É importante esclarecer que a Semana de Arte Moderna revolucionou a cultura brasileira, causando impacto nas artes, o que mudou a mentalidade da sociedade de modo geral.
A respeito dessa nova mentalidade de arte, o escritor maranhense Graça Aranha, em 1924, sofrendo severas críticas por parte dos acadêmicos conservadores, proferiu a seguinte manifestação: “A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro” e “Se a Academia não se renova, morra a Academia”.
No início, o movimento modernista gerou duas reações: a da crítica, que condenou tudo que foi apresentado, chegando inclusive a comparar os artistas com doentes mentais e loucos, e a do público que, desconfortável e insatisfeito com o que foi apresentado, ignorou o movimento modernista.
A obra “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade, foi o marco importante da Semana de Arte Moderna, seguida de outras obras do mesmo autor, como “A escrava que não é Isaura”, “Amar, Verbo Intransitivo”, “Macunaíma”.
As ideias da Semana de Arte Moderna foram difundidas através de outros movimentos artísticos da época de publicações. Dentre os movimentos e grupos formados na década de 1920 estão: Movimento Pau-Brasil, Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, Movimento Antropofágico. Em relação às publicações destacaram-se as revistas Klaxon e Antropofagia.
Ao longo do século XX a Semana de Arte Moderna teve o seu valor histórico reconhecido e foi considerada o marco inicial do movimento modernista brasileiro. As ideias que surgiram na Semana de 22 se desdobraram movimentos diversos que levaram seu legado adiante. A herança da Semana de Arte Moderna ainda pode ser observada em movimentos posteriores como o Tropicalismo a geração da Lira Paulistana e a Bossa Nova.
Apesar de ter chocado uma parte da sociedade brasileira, a Semana de Arte Moderna trouxe uma representação artística com uma identidade genuinamente brasileira. Eles romperam com a maneira tradicional de fazer arte, que seguia tradicionais modelos europeus.
Dentre os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, destacam-se: Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Graça Aranha (1868-1931), Victor Brecheret (1894-1955), Plínio Salgado (1895-1975), Anita Malfatti (1889-1964), Menotti Del Picchia (1892-1988), Ronald de Carvalho (1893-1935), Guilherme de Almeida (1890-1969), Sérgio Milliet (1898-1966), Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Tácito de Almeida (1889-1940) e Di Cavalcanti (1897- 1976).
É preciso entender que o Modernismo é dividido em três fases, com suas peculiaridades e características:
A primeira fase é o período de implantação do movimento com uma visão radicalizada e destruidora em relação ao passado e ao academicismo (1922-130).
A segunda fase é considerada de período de amadurecimento ou de construção, de uma visão crítica sobre os problemas sociais que imperavam no Brasil, principalmente no Nordeste (seca, latifúndio, coronelismo e cangaço). É a fase de 30, com vultos importantes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, José Lins do Rego e outros.
A terceira fase também conhecida como Geração de 45, a última fase do Modernismo, considerada por muitos como já Pós-Modernismo, é caracterizada pela liberdade, pela poesia do existencialismo e romance de aprofundamento psicológico. Os novos autores abandonam diversos ideais defendidos pela primeira geração do Modernismo, como a exploração da realidade brasileira e a linguagem popular. Na poesia há, inclusive, um retorno à forma, sendo encarada como a arte da palavra (o que seria um Neoparnasianismo). É a fase de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Ariano Suassuna e outros.


(Fontes de pesquisa: Mundo Educação, Brasil Escola, Portal Educação, Educa+Brasil, Brasil Paralelo) (Resumo postado por José Kleber Neves Sobrinho – em 13/02/2022 - São Luís/MA)