21/04/2025

UM POUCO DE LITERATURA A SEMANA DE ARTE MODERNA (1922) MAS, AFINAL, O QUE FOI A SEMANA DE ARTE MODERNA?

Por postado por José Kleber Neves Sobrinho

Há exatamente 100 anos, o Brasil despertava para uma nova mentalidade artístico-cultural.

A mentalidade artístico-cultural brasileira era extremamente elitista e conservadora, em que prevaleciam as fórmulas tradicionais, principalmente em se tratando de Literatura. Ainda cultuava-se a linguagem formalista, fulcrada na produção parnasiana. A linguagem castiça, ao estilo parnasiano, ainda imperava nas obras de autores como Olavo Bilac (1865-1918), Alberto de Oliveira (1857-1937), Vicente de Carvalho (1866-1924), Teófilo Dias (1854-1889) e outros.

Anteriormente à Semana de Arte moderna, ou seja em 1917, a artista plástica Anita Malfatti (1889-1964), recém-chegada da Alemanha, expôs os seus quadros futuristas, propondo uma nova visão de arte plástica, o que suscitou severas críticas do escritor Monteiro Lobato, através do artigo “Paranóia ou Mistificação?”, publicado no jornal O Estado de São Paulo.

Anita Malfatti, ao lado da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973), formou o “Grupo dos Cinco” com Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Mário de Andrade. O grupo era descrito por Tarsila como “Bando de doidos em disparada por toda parte no Cadillac verde de Oswald”. Ainda, segundo ela, o principal motivo da compra de um Cadillac por Oswald foi a presença de um cinzeiro dentro do carro, item raro em outros modelos.

Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral)

 

Tarsila do Amaral não esteve presente na Semana de Arte Moderna de 1922. No entanto, sua filiação ao modernismo ocorreu logo em seguida.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), vários acontecimentos aceleraram, de forma significativa, a cultura, a política e do modo de viver da sociedade brasileira. O ano de 1922 foi importante em virtude de uma série de acontecimentos de grande influência histórica. O centenário da Independência do Brasil, o levante tenentista do Forte de Copacabana, a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a primeira transmissão radiofônica no país anunciaram que o século XX chegava para ficar. Mas, nenhum desses eventos se fixou em nosso imaginário sociocultural com o alcance e a profundidade da Semana de Arte Moderna de 11 a 18 de fevereiro, de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo.

A Semana de Arte Moderna foi um evento sem precedentes na cultura brasileira. Jovens estudantes, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, oriundos de famílias tradicionais e bem conceituadas, recém-chegados da Europa, munidos de uma nova mentalidade de produzir artes e influenciados pelas vanguardas europeias, principalmente na pintura e literatura, implantaram uma turbulência cultural que provocou feroz resistência da elite paulistana, tão moldada pelos padrões tradicionais.

A burguesia brasileira encontrava-se envolta nas tradições culturais francesas, na “Belle Époque”, em que todo produto francês era bom e refinado. Era preciso mudar essa tradição reacionária e obsoleta. Os principais dias de eventos da Semana de Arte Moderna foram 13, 15 e 17 de fevereiro. No dia 13, a abertura do evento foi feita pelo escritor maranhense Graça Aranha (1868 – 1931), com a palestra “A emoção estética da Arte Moderna”, seguido de apresentações musicais e exposições artísticas.

No segundo dia 15, houve uma apresentação musical, a palestra do escritor e artista plástico Menotti del Picchia e o recital do poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, que coube a Ronald de Carvalho, vez que o autor estava acometido de uma crise de tuberculose. Esse importante evento teve uma reação violenta da elite conservadora, com um tumulto sem controle, através de vaias, assobios, gritos e imitação de vozes de animais. Mas era justamente isso que os modernistas esperavam; eles queriam um acontecimento inédito, turbulento, sem o formalismo das conferências literárias “insossas” dos parnasianos.

No terceiro dia 17, de fevereiro, Vila Lobos (1887-1959), grande maestro, foi apresentar suas composições, subindo ao palco, calçando num pé um sapato e noutro um chinelo. O público vaiou, pois considerou a atitude futurista e desrespeitosa. Depois, foi esclarecido que Villa-Lobos entrou desta forma porque estava com um calo no pé.

É importante esclarecer que a Semana de Arte Moderna revolucionou a cultura brasileira, causando impacto nas artes, o que mudou a mentalidade da sociedade de modo geral.

A respeito dessa nova mentalidade de arte, o escritor maranhense Graça Aranha, em 1924, sofrendo severas críticas por parte dos acadêmicos conservadores, proferiu a seguinte manifestação: “A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro” e “Se a Academia não se renova, morra a Academia”.

No início, o movimento modernista gerou duas reações: a da crítica, que condenou tudo que foi apresentado, chegando inclusive a comparar os artistas com doentes mentais e loucos, e a do público que, desconfortável e insatisfeito com o que foi apresentado, ignorou o movimento modernista.

A obra “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade, foi o marco importante da Semana de Arte Moderna, seguida de outras obras do mesmo autor, como “A escrava que não é Isaura”, “Amar, Verbo Intransitivo”, “Macunaíma”.

As ideias da Semana de Arte Moderna foram difundidas através de outros movimentos artísticos da época de publicações. Dentre os movimentos e grupos formados na década de 1920 estão: Movimento Pau-Brasil, Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, Movimento Antropofágico. Em relação às publicações destacaram-se as revistas Klaxon e Antropofagia.

Ao longo do século XX a Semana de Arte Moderna teve o seu valor histórico reconhecido e foi considerada o marco inicial do movimento modernista brasileiro. As ideias que surgiram na Semana de 22 se desdobraram movimentos diversos que levaram seu legado adiante. A herança da Semana de Arte Moderna ainda pode ser observada em movimentos posteriores como o Tropicalismo a geração da Lira Paulistana e a Bossa Nova.

Apesar de ter chocado uma parte da sociedade brasileira, a Semana de Arte Moderna trouxe uma representação artística com uma identidade genuinamente brasileira. Eles romperam com a maneira tradicional de fazer arte, que seguia tradicionais modelos europeus.

Dentre os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, destacam-se: Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Graça Aranha (1868-1931), Victor Brecheret (1894-1955), Plínio Salgado (1895-1975), Anita Malfatti (1889-1964), Menotti Del Picchia (1892-1988), Ronald de Carvalho (1893-1935), Guilherme de Almeida (1890-1969), Sérgio Milliet (1898-1966), Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Tácito de Almeida (1889-1940) e Di Cavalcanti (1897- 1976).

É preciso entender que o Modernismo é dividido em três fases, com suas peculiaridades e características:

A primeira fase é o período de implantação do movimento com uma visão radicalizada e destruidora em relação ao passado e ao academicismo (1922-130).

A segunda fase é considerada de período de amadurecimento ou de construção, de uma visão crítica sobre os problemas sociais que imperavam no Brasil, principalmente no Nordeste (seca, latifúndio, coronelismo e cangaço). É a fase de 30, com vultos importantes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, José Lins do Rego e outros.

A terceira fase também conhecida como Geração de 45, a última fase do Modernismo, considerada por muitos como já Pós-Modernismo, é caracterizada pela liberdade, pela poesia do existencialismo e romance de aprofundamento psicológico. Os novos autores abandonam diversos ideais defendidos pela primeira geração do Modernismo, como a exploração da realidade brasileira e a linguagem popular. Na poesia há, inclusive, um retorno à forma, sendo encarada como a arte da palavra (o que seria um Neoparnasianismo). É a fase de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Ariano Suassuna e outros.

 

Teatro Municipal de São Paulo (foto de 1925)

 

Alguns participantes da Semana de Arte Moderna

 

(Fontes de pesquisa: Mundo Educação, Brasil Escola, Portal Educação, Educa+Brasil, Brasil Paralelo)
(Resumo postado por José Kleber Neves Sobrinho – em 13/02/2022 - São Luís/MA)

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