02/12/2024

CINEMATECA LUME HOMENAGEIA MURILO SANTOS

Fui solicitado pelo cineasta Frederico Machado, neste sábado, 30 de maio de 2020, a realizar um texto para reverenciar o nosso amigo, colega e professor de vida, José Murilo Moraes dos Santos, que teria uma semana de homenagens no canal da Cinemateca Lume que exibirá sua produção audiovisual, antecedida por uma hora de depoimentos e relatos de vida do autor e  das pessoas com que Murilo teve a oportunidade de interagir no campo cinematografico em nossa terra, São Luís.

Confesso que fiquei impactado: primeiro pelo fato de ser Murilo Santos – Mura para os mais íntimos – uma homenagem mais do que merecida. Segundo pelo fato de não ter pensado nessa possibilidade e vindo exatamente da Cinemateca Lume, que, aliás, no momento, presta um serviço extraordinário ao movimento cinematográfico maranhense por meio das redes digitais.

Pois bem, Murilo Santos, segundo minha perscepção de praticante e estudioso desse campo da atuação é a maior referência do cinema e do movimento audiovisual maranhense de todos os tempos. Tudo que eu aprendi, pessoalmente, passou pela sua generosa disponibilidade de ensinar, orientar, guiar e mostrar caminhos por onde seguir. Portanto, Murilo Santos é como se fosse uma pérola perdida no fundo do mar e a nossa missão era de encontrar os percursos por onde seguir e descobrir os caminhos ideais para seguir em fente. Murilo Santos foi luz no horizonte dos ralizadores maranhenses, incluindo a construção e retomada da produção audiovisual local, em uma época que não tínhamos laboratórios e nem políticas públicas para desenvolvermos qualquer movimento cinematográfico em terras maranhenses. Murilo teve a espertesa de nos mostrar caminhos por onde seguir e ir frente, sem impor sua vontade como verdade absoluta. Ele nos mostrou alternativas e, a partir daí, fizemos nosssas escolhas, conforme nosssas consciências.

Eu, pessoalmente, escolhi trabalhar com o cinema documental e foi Murilo Santos que me mostrou e demonstou que numa sociedade em que havia restrições democráticas de livres expressões do pensamento, bem como agressões recorrentes a nossa liberdade de escolhas ideológicas impostas por um regime autoritário e ditatorial, e, de que, o cinema documental reflete as aspirações da comunidade, assim como a verdade de uma sociedade, essa seria a escolha mais coerente.

Desse modo, nesta conjuntura surgiram filmes produzidos, dirigidos ou codirigidos, feitos na bitola Super 8, estando entre eles: “Colonos Clandestinos”, referente as primeiras ocupações da área conhecida como Coroadinho; “Alegre amargor”, sobre a Festa do Divino de Alcantara; !A Rua Grande!?” e “Feições”, sobre as angustias do povo ludovicense frente as incertesas do futuro; “Mamucabo”, sobre os artesões de Barreirinhas, “A Ilha Rebelde ou a greve da meia passagem”, sobre o movimento estudantil que reinvindicou a meia passagem para os estudantes de são Luís, em 1979 – algo memorável e impactante no nosso meio comunitário; sobre a Festa do Preto Velho”, referente às atividades religiosas da Casa de Nagô e os rituais afrodescentes maranhenses, entre tantos outros temas trabalhados ao longo do tempo, em uma época quando a nossa imprensa televisiva, radiofônica e impressa seguer tinha uma orientação para cobrir esses temas ligados a relacionamento comunitário, pois a cobertura jornalística dessse período era praticamente reservado para a cobertura do poder oficial que estava no comando do Estado, enquanto instituição federativa.

Nosso recursos financeiros, enquanto estudantes, eram muito poucos, pois nessa época não havia políticas públicas para atender essa demanda. Nós tínhamos que nos virar nos 30, como se diz na atualidade. Por isso, Murilo santos, foi um porto seguro para nos orientar e seguir em frente. Muito obrigado Mura, por ter entrado na minha vida e pelos ensinamentos ao longo do tempo. Serie sempre grato pela sua generosidade e carinho. Digo isso em meu nome e em nome dos realizadores atuantes daquele período que se frutificou a partir dos anos de 1970, na cidade de São Luís.

São Luís, 30.01.2020.

Euclides Moreira Neto.

*A Mostra Murilo Santos estará em exibição na primeira semana do mês de junho no canal da Cinemateca Lume, exibindo sua obra, antecedida de debates com a presença do autor – Horário: 19 horas, começa o chat com a presença de Murilo Santos

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