17/11/2025

MISTÉRIOS E DÚVIDAS NOS PROJETOS DE ADEQUAÇÕES DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE SÃO LUÍS

Por Euclides Moreira Neto (*)

Estranhamente (ou não) a gestão do atual Prefeito de São Luís acelerou ações de construção e adequações dos espaços públicos de nossa capital, bem como tem sido muito eficiente o programa de asfaltamento desenvolvido em conjunto com o governo do Estado. Tudo isso ocorre no ano eleitoral quando a população é convocada a escolher seus novos dirigentes. Esse filme já foi visto e é do conhecimento de todos, pois não há nada mais normal nessas desenvolvidas pelas gestões das cidades em nosso país.

O grande problema é que as maiorias dos gestores deixam para programar essas ações de benfeitorias no fechar das cortinas, e, consequentemente há uma pressa explícita, em concluir tais obras, muitas das quais a muito solicitada pela população, mas que, como passe de mágica, tudo acontece nessa reta final do(s) mandato(s) eletivo. Essa ação a rigor dar ao gestor capital político e eleitoral para que seu grupo permaneça no poder.

Nessa configuração vemos que a cidade de São Luís e muitos de seus bairros tiveram suas praças (e mesmo meios fios de avenidas) cercadas por tapumes em material aluminado, o que deixa a impressão de que uma grandiosa obra será edificada naqueles locais. Pois bem, sendo grande, média ou pequena a obra a ser executada, o certo é que haverá uma intervenção, a qual deverá ou deveria ser boa para a cidade.

Mas em algumas ações existem dúvidas que nos deixa com a pulga atrás da orelha. Se não vejamos: Na maioria dos espaços cercados não existe a placa com informações importantes para que os cidadãos tomem conhecimento do que será executado (qual intervenção?), como o valor da obra, o prazo de entrega, o engenheiro responsável, a fonte de financiamento, etc. Quando muito existe a placa com o nome do “São Luís em Obras”, nome do programa batizado pela gestão do atual Prefeito.

Acreditamos que essa cercadura aluminada nos espaços públicos seja uma medida mais para causar impacto junto dos eleitores, considerando que qualquer obra neste ano eleitoral pode se converter em capital eleitoral e político para os atuais detentores do poder, incluindo seus aliados que deverão concorrer no próximo pleito eleitoral que irá escolher vereadores e o próximo Prefeito do Município, lembrando que especialmente aqui em São Luís há um olhar super. Pois, segundo opiniões de analistas a escolha do futuro governador também passa pelas escolhas dos eleitores da nossa capital.

Tenho percebido também que muitas intervenções por serem de pequeno porte não precisaria ter a citada cercadura aluminada, pois de tão simples, chega a causar suspeição. Um desses espaços aqui relatado relaciona-se a calçada urbanizada na Avenida dos Holandeses – em frente à agência estilo do Banco do Brasil. A impressão que ficou para os transeuntes daquele local é que parte das despesas ali efetuadas poderia ser utilizada em outros espaços que precisam da intervenção do poder público.

Mas há muitos outros que nos deixa “boca e aberta” nos bairros Vinhais, Cohab, Turú, Angelim, etc. praticamente todas aquelas pequenas quadras que foram reservadas para praça que há anos estavam a esperar intervenção dos gestores, agora como um passe de mágica, vai sofrer intervenções. Como as eleições ocorrem no próximo mês de novembro, espera-se que todos os espaços cercados sejam efetivamente concluídos e com qualidade, não ficando somente em capina e a execução de pequenas calçadas cercando tais espaços.

Mas a obra mais instigante e conflituosa que nos parece a provocar dúvidas está à intervenção que se executa na região da Fonte do Bispo e seu entorno, que abrange a área utilizada pelos grupos culturais, especialmente as manifestações do ciclo carnavalesco, que requerem a construção da Passarela do Samba para efetivar os diversos concursos oficiais alusivos àquele campo de atuação, ou seja, os concursos das Escolas de Samba, Blocos Tradicionais do Maranhão, Blocos Organizados, Tribos de índios, etc.

Há muito tempo os responsáveis pelos grupos das manifestações carnavalescas requerem uma Passarela do Samba (que também seria um espaço multiuso) para atender suas necessidades técnica e liberar o poder público de ter que licitar – todos os anos – a contratação de uma estrutura física para viabilizar os referidos concursos. Infelizmente, nossos praticantes das manifestações culturais sempre ficaram sós com promessas.

Surge agora uma grande dúvida, aquela área está se transformando em um canteiro de obras, executada pela Construtora Ducol, mas a projeto nunca foi apresentados aos protagonistas da festa carnavalesca. O que realmente será feito ali? Falam em Arena Multiuso, que não atende aos grupos carnavalescos. E se o espaço da Passarela do samba for ocupado por uma obra que inviabilize os futuros desfiles dos grupos do campo carnavalesco, mais da metade dos referidos grupos estão fadados a desaparecer.

É recorrente a afirmação no meio comunitário de que Passarela do Samba é vital para todos os grupos carnavalescos de nossa cidade, pois esses grupos se produzem artisticamente para desfilar na referida passarela e concorrer nos concursos oficiais de cada categoria. Essa participação é quem mantém a força da comunidade unida e voltada para realizar o sonho de enredos e projetos visuais que encantam o povo que também votam nas futuras eleições, independente de orientação religiosa, política, econômica, social, histórica, etc.

Atenção gestores e candidatos ao pleito eleitoral, o povo quer participar e transformar as festividades do ciclo carnavalesco em ações que lhes massageiam o ego, as quais também lhes renovam as emoções e lhes dê bem estar. As conquistas são consequências do trabalho realizado, mas a grande satisfação é o congraçamento emanado pela euforia coletiva de participar do ato ritualístico.

Cabe ao poder público e aos seus representantes ter juízo e abrir um canal de diálogo com a comunidade para corrigir eventuais incongruências. Nesta reta final em que o povo tem poder, é bom que ele seja escutado com responsabilidade, considerando que pode haver uma revolta massiva de quem tem a força do voto. Pensem nisso. Continuamos a atravessar a Pandemia Covid 19.

São Luís, 4 de agosto de 2020.

(*) Professor Mestre em Comunicação Social e Investigador Cultural.

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